NASCE UMA DIVA
Com apenas 23 anos, cantora revelação traz Jazz, Blues e uma pitada de Brasil em novo disco
Por Rainha do Maracatu Roubada de Ouro, colunista d’O Grito!
ESPERANZA SPALDING
Esperanza
[Heads Up Int´l, 2008]
O nome dela é Esperanza Spalding. Caso ainda não tenha ouvido falar, trata-se de uma norte-americana que promete se destacar no usualmente masculino ambiente do Jazz. Na conta matemática musical, em que mulheres – via de regra – em sua maioria são intérpretes, Esperanza foge a quaisquer pré-julgamentos: canta, toca magistralmente e compõe.
Antes que se esqueça o fato de que é uma mulher num universo predominantemente masculino, Esperanza é negra. Achou pouco? Ela tem apenas 23 anos e – apesar de tocar desde criança – também possui formação pela Berklee College of Music, em Boston, onde ingressou aos 16 e posteriormente passou a integrar o quadro do corpo docente, tornando-se assim a professora mais jovem de toda a história da maior universidade de música independente do mundo.
Após tocar com referências do ramo como Patti Austen e Pat Metheny, ela partiu para vôo solo e lança Esperanza, obra que mescla jazz Old School e o que se chama de Progressive, sem esquecer o acento soul e com pitadas – muito bem vindas – da nossa prata da casa, a Bossa Nova.
Esperanza é um disco em três línguas: inglês, espanhol e um bom português, quase sem sotaques, entoado em duas canções. O Brasil abre e encerra o disco da diva. A primeira canção é “Ponta de Areia”, obra de Fernando Brant e Milton Nascimento. O encerramento ‘brasuca’ no repertório fica por conta de “Samba em Prelúdio”, de Vinícius de Morais e Baden Powell.
Em “Body & Soul (Cuerpo Y Alma)”, ela arrisca executar um clássico do jazz em espanhol – temerário se pensarmos que a entonação em espanhol é feita nas últimas sílabas, ao contrário do que se passa com a língua inglesa. Se funciona? Divinamente.
O disco passeia pelo soul e é livre em canções mais contemporâneas. Em “I Know you Know”, dá-se a nítida impressão de que ela conversa com baluartes do cancioneiro brasileiro, pois trata-se de um samba-jazz compassado e dançante. Irresistível. Vale a pena a degustação com calma, de frente para o mar com uma flûte de espumante, em um bar à meia-luz regado a uma dose de whisky, no encontro caseiro com amigos ou ainda no MP3. Desnecessário dizer que ela é uma das atrações mais do que cotadas no Tim Festival este ano, onde é presença confirmada.
NOTA: 8,5
[audio:https://revistaogrito.com/page/audio/01-Ponta De Areia-Esperanza.mp3]
“Ponta de Areia”
[audio:https://revistaogrito.com/page/audio/02-I Know You Know-Esperanza.mp3]
“I Know You Know”