Batalha de MCs no Centrão do Recife revela novos talentos e mostra que o estilo tem público fiel
Por Rafael Curtis*
Faltam poucos minutos para as 20h e a esquina da Rua do Hospício com a Av. Conde da Boa Vista, no Centrão do Recife está bem movimentada. Ali, na escadaria da calçada da loja de roupas Cattan um grupo de jovens se aglomera perto de um poste em frente ao Beco da Fome. Vai acontecer a qualquer momento uma batalha de MCs, tudo organizado sem muita produção, mas com um grupo bem interessado de cerca de 80 pessoas. Quem passa desavisado não entende bem o que acontece naquela espécie de flashmob. O evento acontece uma vez por mês e entrou para o calendário da promissora cena hip hop do Recife.
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Diversos rappers transitam por lá, carregando seus EPs e mixtapes, todos lançados de forma independente e muitos deles com qualidade não muito boa de gravação. Alguns vieram do Interior do Estado – Salgueiro, Carpina -, outros estão representando periferias de São Lourenço da Mata, Camaragibe, entre outros. Um dos vencedores desse dia foi Tai, um dos nomes mais citados quando chegamos por lá. Ele chegou cedo e era bastante abordado por admiradores. Saiu vencedor da Batalha da Escadaria ali no Centro. “A cena está crescendo com gente de todas as cidades. É aqui que ficamos conhecidos, mas quero fazer shows em lugares maiores. Estou finalizando meu novo disco, que trarei para cá”, disse após ganhar diversas rodadas do dia e sair vencedor.
Tai MC lançou essa semana seu EP, Em Terra de Gigante. Ele também foi o vencedor da eliminatória do Duelo Nacional no Recife, um campeonato nacional que vem ajudando a revelar novos nomes do hip hop. A eliminatória local aconteceu no último dia 13 de julho no Clube Atlântico de Olinda e juntou oito MCs. Gustavo Pontual, outro representante de destaque da cena se apresentou por lá.
Outro jeito
Todas essas articulações vem sendo agitadas pela marca D’Outro Jeito, que organiza as Batalhas da Escadaria todos os meses. A última foi realizada nessa sexta (2), com participação de 12 MCs. No duelo de rimas improvisadas, muitas vezes o clima fica pesado. “Não pode falar mal da mãe, nem do lugar de onde o irmão veio, mas muitas vezes o cara perde a cabeça”, disse um dos aspirantes a duelista ali na Rua do Hospício. Além de Tai, presenciamos muitos MCs com rimas inspiradas, mas também outras meio desesperadas.
Em uma delas, um MC disparou xingamentos contra Tai, que respondeu com um belo discurso anti-homofobia. A plateia que fazia um círculo ao redor dos MCs ovacionou e aplaudiu. Toda a inscrição é feita na hora e há premiação para o primeiro e o segundo lugar. Além da Batalha, o pessoal do D’Outro Jeito ainda ajuda a divulgar trabalhos de rappers, além de vender roupas e acessórios, que é seu verdadeiro negócio. Criada em 2002, a marca conseguiu uma grande identificação com o público amante de street-art, skate e rap.
Criada há três anos, a Batalha da Escadaria é um evento já conhecido entre os apreciadores do gênero e que acontece numa das vias mais movimentadas do Recife. E é nesse espaço público que o hip hop em Pernambuco vai se fortalecendo. A visita à Batalha vale muito a pena. O mais irônico é o fato de que muitos que trabalham na área parecem pouco se importar. Sem nenhuma consideração, um vendedor de tapioca colocava nas alturas um technobrega que prejudicava quem tentava ouvir as rimas dos MCs. Coisas do Centrão do Recife. [* Colaboraram Paulo Floro e Fernando de Albuquerque]
Atualização: Corrigido o texto em relação à marca D’Outro Jeito, chamada erroneamente de “coletivo” e “produtora” na reportagem. Trata-se de uma marca de roupa que apoia e realiza eventos a fim de divulgar novas coleções