Especial Hip Hop 2013: Mac Miller, Chance The Rapper. J.Cole e outros discos que valem a pena descobrir

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Chance The Rapper foi a surpresa do ano (Foto: Divulgação)
Chance The Rapper foi a surpresa do ano (Foto: Divulgação)

O ano de 2012 mostra que o hip hop quer ir além de suas fronteiras com artistas explorando outras paisagens o quanto podem. Quando acertam, conseguem discos pop como J.Cole ou criativos como a mixtape AcidRap, de Chance The Rapper. Outras vezes o resultado fica além do que esperamos de nomes inventivos como Kid Cudi e Eve. Também tivemos a surpresa de Mac Miller, rapper branco e judeu que vem trazendo novas ideias ao velho rap. Veja abaixo um apurado do hip hop independente este ano.

Por Paulo Floro

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Especial: O Hip Hop em 2013

macmillerMAC MILLER
Watching Movies With The Sound Off
[Rostrum Records/Universal, 2013]

Candidato a um dos melhores discos de hip hop do ano, Watching Movies With The Sound Off tem a força criativa para forçar mudanças no gênero, com intersecções de gênero que é quase uma mescla do que propriamente influência. Serve para ter uma ideia do que ainda é possível chegar no gênero. Durante a audição do disco, é comum parar e perguntar para onde Mac está indo, se está querendo se transformar em um cantor de indie-rock, de folk ou se está relutante na tentação de ser um comum gangsta-rap. Outras, parece está apenas experimentando nas rimas, ou fazendo um revival do rap dos anos 80 (“Bird Call”). Vai saber o que quer Mac Miller, um rapper branco, da Pensilvânia e ainda por cima judeu.

Com essas características é preciso muita moral para seguir em altíssima cota dentro do gênero, muito marcado por estereótipos. Com apenas 21 anos, o jovem músico conseguiu chamar atenção de Diplo, Schoolboy Q, Flying Lotus e Clams Casino, que participam do disco. O destaque fica também por conta de algumas letras, como em “Aquarius” e arranjos inspirados como “Matches”. O que fode com toda essa boa produção e ideias originais é a misoginia que parece gritar em alguns momentos e estragam as faixas em que aparecem, como o ~célebre~ texto “vadia chupe meu pau antes que eu meta porrada”.

Sério que ainda acham isso “cool”? Isso rende muitos pontos negativos, o que nos faz pensar que um pouquinho mais de maturidade e menos “semnoçãozisse” faria bem.

Nota: 7,5

acidrapCHANCE THE RAPPER
Acid Rap
[Independente]

Nome de guerra de Chancelor Bennett, Chance The Rapper foi o nome surpresa deste ano. Ele chegou aos ouvidos de entendidos com a primeira mixtape, 10 Day, de 2012. Com esta segunda, Acid Rapper, ele revela uma gama bem variada de referências, o que chega a surpreender (mas não tanto) pela sua pouca idade (tem 20 anos). E juntou um povo respeitado: Twista, BJ the Chicago Kid, Action Bronson, Childish Gambino e Ab-Soul, todos ligados à cena independente do Hip Hop dos EUA. Um pouco à margem do que acontece nos grandes centros do rap americano, ele conseguiu desenvolver um estilo que está em órbita em relação ao que tínhamos ouvido nos últimos dois anos.

Esse frescor e identidade marcada ficam muito explícitos na mixtape, cheia de bons momentos. Difícil escolher uma faixa em especial. “Cocoa Butter Kisses” não faria feio em nenhuma pista de dança indie, “Lost” e “NaNa” são românticas, um tantinho cínicas e pegam influência de folk e viagens do trip-hop respectivamente. Tem ainda “Smoke Again”, com Ab-Soul, com seu minimalismo e um jogral ao fundo, certamente uma das melhores músicas do ano.

O álbum perde um pouco o ritmo nas faixas mais experimentais, que chegam a esconder trechos da música, com longos silêncios. É perdoável, mas limou o disco de uma excelência, o que talvez fosse a intenção.

Nota: 8,5

J_Cole_Born_Sinner1J. COLE
Born Sinner
[Sony, 2013]

21 faixas depois estamos aqui neste que é o disco mais importante até agora na carreira de J. Cole. Até então, seu disco mais conhecido tinha sido Friday Night Lights, de 2010. Born Sinner dá um salto largo no seu intuito de criar um rap bastante pop, bem fácil de deglutir, daqueles que podemos ouvir tomando café da manhã numa boa. O sucesso que vem recebendo até aqui é merecido. Ainda que não avance muito dentro do gênero em si, é um trabalho que forma público e mostra o quanto o hip hop americano é diverso.

Fora que Cole teve moral de conseguir nomes de respeito para tocar no disco, como Miguel, Amber Coffman (do Dirty Projectors), Kendrick Lamar, James Fauntleroy, 50 Cent e Jhené Aiko (frequente colaboradora de Ab-soul). Ele também soube equilibrar bem o uso de elementos eletrônicos, piano e até coral. O ponto alto – e um dos mais comentados – é a participação do grupo feminino TLC em “Crooked Smile”. Mais por uma saudade das meninas do que mérito de Cole. Para os mais exigentes, esse Born Sinner cansa rápido, mas ainda é assim é um disco que vale dar uma chance

Nota: 7,0

Joey-Badass-Summer-KnightsJOEY BADA$$
Summer Knights
[Cinematic Music Group, 2013]

Em sua segunda mixtape, Joey Bada$$ (nome artístico de Jo-Vaughn Virginie Scott, 18 anos) chega com enorme pressão depois de sua elogiada estreia 1999. Para o ano que vem está previsto seu primeiro disco de estúdio, B4.Da.$$. Neste trabalho, ele se desligou um pouco de preocupações típicas da high school americana e trouxe versos mais consistentes. O problema é que faixas muito longas e produções esquemáticas transformou o disco em uma experiência modorrenta muitas vezes. Em alguns momentos, parece que Bada$$ está meio perdido, como se estivesse em modo “random”, sem se decidir o que quer, um tanto ansioso. Seus melhores momentos são as faixas mais melancólicas (e são muitas), como “Word is Bond” e “Sweet Dreams”.

Nota: 6,5

Wolf_Cover2TYLER THE CREATOR
Wolf
[Odd Future Records / Sony]

Depois de um disco que era puro mimimi adolescente, mas com seus bons momentos, o novo trabalho de Tyler The Creator, Wolf, é bem mais interessante. Um dos nomes mais conhecidos do coletivo The Odd Future (ao lado de Frank Ocean), ele pareceu perceber que sua verborragia não espanta mais ninguém. O disco está mais melódico e até mais pop, o que faz com que o ouvinte não abandone a audição apesar da longuíssima duração. O problema é que Tyler ainda perde muito tempo (e gasta nossa paciência) reclamando da vida, falando o quanto ele é incompreendido, soltando pragas em cima de celebridades, xingando a esmo. Ah, e a palavra “faggot” (bicha) aparece aqui e ali. É como se além dessa sua fama de provocador não sobrasse muita coisa. O que ele ainda mantém de bom: sua voz gutural que faz contraponto com arranjos ao piano, sempre bom de ouvir, além de seu talento como produtor, que consegue tirar o melhor de seus convidados.

Nota: 6,9

Rich_Boy_Break_the_PotRICH BOY
Break The Pot
[Vice Records, 2013]

Break The Pot, o segundo disco do rapper do Alabama Rich Boy, chega como grande promessa, mas repete velhas ideias do hip hop mais tradicional (incluindo aí o gangster dos anos 90, velha ideia fixa de muitos novatos). O primeiro trabalho de Rich, cujo nome verdadeiro é Marece Richards veio no já longíquo ano de 2007 quando ele chamou atenção com seu único hit até aqui “Throw Some D’s”. Depois de participar de trilha sonora de um documentário sobre a NBA e de algumas faixas esporádicas, o rapper caiu nas graças da Vice, que lançou o álbum pelo seu selo. Depois de todos esses anos, o músico segue promissor, mas ainda sem quebrar nenhuma barreira.

Nota: 6,0

Eve_Lip_LockEVE
Lip Lock
[From The Rib / RED]

A experiência da rapper Eve a deu segurança suficiente para ousar mais neste disco, com pegadas afrobeat (em “She Bad Bad”), batidão (“Wanne Be”, com Missy Elliott e “Eve”, com Miss Kittin) e dance (“Keep Me From You”). Mas nem sempre ela consegue, o que transforma o disco em uma salada muito doida de rap comercial com um desejo grande de ir além do que já fez em sua carreira. É um trabalho que busca relevância depois de um longo hiato (seu último álbum foi em 2002, Eve-Olution).

Nota: 6,0

Kid-cudi-indicud-coverKID CUDI
Indicudi
[GOOD/Republic]

Indicudi, novo disco de Kid Cudi lançado no início deste ano é uma decepção em muitos sentidos. Artista cheio de boas ideias e com uma flexibilidade para pensar hip hop misturado com batidas certeiras para pista e influências de indie rock, ele parece chegar cansado neste seu terceiro álbum. O maior problema é que depois de atingir um nível de ousadia e carisma, ele não conseguiu manter o mesmo nível, apesar da presença de nomes interessantes como Father John Misty, Kendrick Lamar e RZA. Há também alguns convidados estranhos (digam olá para Michael Bolton).

Nota: 5,0