HERÓIS DE VERDADE
Entenda o processo que levou a Marvel a abandonar tramas depressivas e realistas, para devolver aos seus personagens o que eles tem de heróicos
Por Gustavo Vícola
Editor do blog de HQ da Revista O Grito!
O Universo Marvel está prestes a sofrer uma nova mudança com a aurora da Era Heróica, uma época de esperança na qual os heróis voltarão a brilhar e os malfeitores deverão se esconder perante tal brilho. Aliás, este será um momento de alívio após anos de pesadelo. Este é o plot da principal reformulação da Marvel em anos.
Caso você não saiba, há quase seis anos super-heróis como o Homem-Aranha, Homem de Ferro, Luke Cage, Wolverine e outros vivem o mais terrível momento já vivenciado nas páginas da editora dentro de seus 70 anos de publicações. Uma corriqueira briga entre super-heróis e vilões resultou na morte de vários civis – inclusive dezenas de crianças – e trouxe à baila uma discussão política e social que culminaria no extermínio de vários heróis e o retorno à uma época de “caça às bruxas”, na qual eles seriam procurados e condenados como criminosos.
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A “Lei de Registro” foi uma lei que obrigava todo super-herói a revelar sua identidade e a se registrar junto ao governo estadosunidense para que pudesse continuar atuando no combate ao crime.
Desnecessário dizer que muitos foram contra a famigerada lei encabeçada por Tony Stark, o Homem de Ferro. Aqueles que se colocaram contra a medida foram liderados na guerrilha por Steve Rogers, o Capitão América, e os dois grupos lançaram-se em uma contenda de graves conseqüências. O resultado do conflito? A morte do maior herói da editora. Aos moldes da DC Comics, que em 1992 viu tombar seu maior herói, o Superman, quinze anos depois a Marvel viu o Capitão América, seu ideal de heroísmo e justiça, cair ante as forças do mal.
Apesar do duro golpe muitos heróis permaneceram na clandestinidade e passaram a ser caçados pelos Thunderbolts, uma equipe governamental formada por detentos super-poderosos e liderada por um dos maiores vilões do Universo Marvel, o empresário Norman Osborn, também conhecido como o Duende Verde.
Manipulador por natureza Osborn não tardou em ganhar prestígio devido à sua liderança frente aos Thunderbolts e posteriormente, quando a Terra foi invadida pela raça de alienígenas metamorfos, Skrulls, foi ele quem se apresentou como o salvador da raça humana.
Tendo atuado como um dos pivôs da vitória sobre os Skrulls, Osborn não teve problemas em firmar-se no cenário político como um homem de grande influência e poder, tanto a ponto de conseguir organizar sua própria equipe de Vingadores, os Vingadores Sombrios, um grupo composto pelos mesmos vilões com os quais Osborn trabalhou nos Thunderbolts, mas desta vez disfarçados como os super-heróis já aceitos pelo público.
Apesar de todos estes acontecimentos tudo até então serviu somente como preâmbulo para o verdadeiro terror dentro da Marvel. Com todo o poder que agregou ao longo dos acontecimentos anteriores Osborn deu início ao que é conhecido como Reinado Sombrio, um cenário no qual um dos homens mais maquiavélicos e malignos do mundo e com poderes quase ilimitados se lançará em uma cruzada pessoal de vingança contra todos aqueles que algum dia lhe fizeram mal, ou seja, vários heróis. É neste momento que encontramos a cronologia da Marvel no Brasil, o qual está sendo publicado na nova revista mensal da editora Panini, Vingadores Sombrios.
Mas, como todo grande império o reinado de Osborn chegará ao fim, e após isso virá uma Era Heróica; o amanhecer após uma noite de grande tristeza e desesperança que por vários anos cobriu o Universo Marvel, um cenário no qual o mal finalmente foi vencido e aqueles que desejam lutar contra ele poderão viver sem o medo da perseguição e da morte.
Desde que os Vingadores foram criados por Stan Lee e Jack Kirby em 1963 o grupo recebeu a alcunha de “Os maiores Heróis da Terra”, mas ao longo dos últimos 25 anos pouquíssimas vezes houve justiça à este título. Suas histórias eram fracas, superficiais e a equipe contava com personagens de baixo escalão. Esta situação começou a mudar em 2005 quando o escritor Brian Michael Bendis deu início à uma reformulação na equipe e de lá para cá os Vingadores se tornaram os principais heróis da Marvel.
É inegável que muitos heróis provaram seu valor durante este terrível período, o que contribuiu para reafirmar os Vingadores como os “Maiores Heróis da Terra”. Além disso, observando as vendas é possível perceber que a editora se manteve como líder do mercado durante os últimos anos.
No entanto, apesar do sucesso em recriar alguns heróis e sua principal equipe e ainda, do satisfatório número de vendas o mesmo não se deu no que tange à criatividade, pois nesta época a Marvel mais se assemelhou a um cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Apesar da qualidade dos roteiros de Brian Bendis e outros roteiristas nota-se que poucas inovações houveram nos últimos 5 anos. As histórias de qualquer personagem giravam em torno do grande evento que estivesse ocorrendo no momento e qualquer história que fosse escrita estava direta ou indiretamente ligada ao que estivesse ocorrendo ao fundo. Tudo girava em torno de um ponto focal e se enrolava cada vez mais, mas nunca saia do lugar.
Conseguir amarrar toda esta trama com as revistas mensais é, sem dúvida, um trabalho minucioso e de difícil realização e o fato de ter sido feito só faz revelar a qualidade dos roteiristas da Marvel. Porém, revela também a incompetência em realizar boas histórias simples. Afinal, contar boas histórias completas em poucas páginas – arte na qual Stan Lee realizava com maestria – parece demandar muito mais competência do que coordenar um blockbuster como Guerra Civil, Invasão Secreta ou Reinado Sombrio.
A partir de agora termina o show pirotécnico da Marvel e que estava focando toda a atenção dos leitores, a qual se voltará neste momento para os personagens em si e suas próprias histórias, de modo que obrigatoriamente boas aventuras precisarão ser contadas a fim de que os leitores não os abandonem.
A Era Heróica apresenta-se, portanto, como uma época de esperança não somente para os heróis, mas também para os leitores que poderão ver surgirem histórias que não mais estejam ligadas a uma grande trama e que privilegiem as características de personagens que valeram-se somente delas para cativar os leitores durante décadas. Aliás, as mesmas que foram tão deterioradas e deturpadas ao longo dos anos que à editora só restava recorrer à pouco original opção de criar um grande acontecimento para reformular todos eles.
Como leitor devo concordar que o “reinado sombrio” da falta de criatividade terminou e uma “era criativa” desponta no horizonte. Espero não me decepcionar.
Se quiser conhecer mais detalhes sobre os planos da Marvel para a Era Heróica visite o SOC! TUM! POW!