Vivendo um momento de expansão em sua carreira, a cantora Urias tem muito a celebrar com o lançamento do seu álbum mais recente, intitulado Her Mind Blosson Edition. O projeto traz letras intensas e faz reflexões sobre a sociedade, comportamento e sobrevivência da comunidade LGBTQIAP+. “Eu queria fazer música para todo mundo dançar, algo com uma pegada única e original e bem brasileira”, conta a artista.
Urias é de Uberlândia, em Minas Gerais, e foi assessora pessoal de Pabllo Vittar, de quem é amiga até hoje. Ela começou fazendo covers em 2018 e no ano seguinte lançou o EP com seu nome.
O foco do segundo disco da artista mineira aborda a mente. O trabalho é baseado em um estudo da Universe de Liége, na Bélgica, onde se comprova que o cérebro de pessoas trans são semelhantes ao gênero às quais elas se identificam. “Vem de um lugar de redescoberta, de entender a minha mente, os ritmos, os sons, as línguas”, disse a cantora. O álbum apresenta, ao todo, 13 faixas, sendo cinco inéditas. Na sonoridade, a artista incorpora ritmos latinos e beats eletrônicos, mostrando um novo jeito de fazer música brasileira.
Desde muito cedo em sua carreira, Urias conseguiu alcançar ao mesmo tempo um público brasileiro e internacional. Ainda em 2020, venceu o Berlin Music Video Awards com “Diaba”, e também concorreu no MTV Miaw aqui no país. Não apenas uma cantora talentosa, Urias também se destaca como modelo, participando de eventos de moda de renome, como o São Paulo Fashion Week e a Casa de Criadores, e estampando capas de revistas de prestígio, incluindo Glamour e Bazaar. Atualmente, a mineira está em turnê pelo Brasil com seu álbum Her Mind.
Para Her Mind, a cantora não deixou de lado a subjetividade, mas dessa vez ela traz em seu bojo questões sobre quem ela é por dentro e todas as suas versões durante sua trajetória pessoal e profissional. “O Her Mind vem de um lugar de redescoberta, de entender a minha mente, os ritmos, os sons, as línguas.”, aponta.
Recentemente, Urias cedeu entrevista à Revista O Grito! para falar mais sobre o álbum. Acompanhe:
Vamos falar do seu trabalho mais recente. Como foi escolhida a sonoridade e o visual do Her Mind? E como se difere dos outros trabalhos lançados anteriormente?
Eu queria fazer música para todo mundo dançar, algo com uma pegada única e original e bem brasileira. Meu primeiro álbum, Fúria, veio de diversas situações que passei e despertaram essa raiva em mim. Foi um grito de liberdade! Procurei expressar tudo que sentia nesse álbum. Já o Her Mind vem de um lugar de redescoberta, de entender a minha mente, os ritmos, os sons, as línguas.
Você já afirmou que a estética acaba vindo até antes que a música no seu processo criativo. Eu queria saber se isso continua acontecendo e o que você pensou para a estética do Her Mind?
Sim! Para mim, a estética é uma extensão das músicas. Ela complementa o álbum. A estética do Her Mind veio com o estudo que inspirou ele. Já que estava decodificando a minha mente, eu queria ter algo relacionado a isso. Muitas cores vibrantes e opostas, cada uma trazendo um significado diferente. Na primeira parte, queria cores mais agressivas aos olhos. Já na segunda, tons que representassem mais a sensualidade, tudo ligado em como a mente representa as cores. No álbum completo e o Blossom Edition, trago uma flor como elemento principal naturalizando o meu corpo por meio de algo maior, nesse lugar da natureza mesmo.
E por que a decisão de dividir o EP em três partes
Foi uma ideia minha e da minha equipe de trabalhar cada parte individualmente, separando por sonoridade, conceito e o que queria falar em cada momento. Queríamos trabalhar cada parte de forma separada para ir apresentando ao público em momentos diferentes, para que quando tudo fosse lançado as pessoas entendessem o álbum por completo e o processo dele não se perdesse no fluxo rápido que acontece na era de streaming. Com o Blossom Edition, eu sinto que concluímos o que queríamos contar com o Her Mind deixando em aberto possibilidades de outras histórias e ideias.
Seu primeiro álbum de estúdio, Fúria, foi lançado em 2022. Agora, você já tem mais tempo de carreira e experiência nessa indústria. Queria saber se você consegue sentir essa maturidade nesse novo trabalho, e como isso se manifesta na prática.
Com certeza! Com o tempo eu fui amadurecendo minha forma de pensar, de fazer música, de entender o meio artístico e mudando meus pensamentos. Só assim podemos evoluir e vir com nossas criações e ideias que condizem com que pensamos. É através da experiência que temos a liberdade de criar algo único e simbólico.
É verdade que esse álbum foi influenciado por uma pesquisa científica?
Sim! O Her Mind teve como inspiração um estudo de uma universidade na Bélgica que comprova que o cérebro de pessoas trans são similares ao de pessoas cis. No Fúria, eu era constantemente perguntada sobre o meu corpo. Então queria instigar as pessoas a falarem sobre outras coisas, como a minha mente. Foi quando vi pela primeira vez no TikTok esse estudo. Daí veio a decisão de fazer um álbum focado na minha mente e em como eu penso. Ir além de qualquer coisa que falasse apenas sobre o meu corpo. Esse estudo me trouxe a consciência de que eu tinha que me impor além do social. Naturalizar o meu corpo também de forma biológica. Her Mind é essa busca da naturalidade do meu corpo através da natureza.
De onde você tira essas inspirações para a sua música?
Eu gosto de música animada, dançante, que faça as outras pessoas entrarem na minha onda e sentirem a mesma energia que eu. Gosto de cantar em inglês, espanhol e até francês. Mas o que guia minha música é o ritmo brasileiro. Colocar instrumentos da nossa cultura e que me lembrem de onde sou é essencial para mim.
Lembra do seu primeiro contato com a música? Poderia contar sobre a sua relação com essa linguagem?
Meu primeiro contato com a música foi através da dança. Por muito tempo foi com a dança que eu me expressava. Da infância até o fim da adolescência, ela foi muito como um escape. E isso se reflete bastante no meu trabalho hoje em dia.
Você já participou da São Paulo Fashion Week, modelando para a LED. Como é a sua relação com a moda e como você busca incorporar isso nos seus projetos musicais?
Comecei minha carreira como modelo e sempre amei moda e as passarelas. Mesmo na música, quando tenho oportunidade, participo de desfiles e me conecto com marcas que transmitem a mulher que sou. Todos os meus trabalhos têm uma identidade visual muito forte e levo isso para as roupas também. Gosto de brincar com as cores, os modelos e trazer uma identidade para cada trabalho.
Qual é a importância de eventos como o que você se apresentou no Recife como o La Folie, em novembro passado, para a representatividade da comunidade LGBTQIA+ na indústria da música? Como você enxerga o papel dessas apresentações na luta por igualdade e visibilidade?
Para mim é muito importante ocupar lugares que antes nós não conseguíamos. Cada vez mais vemos pessoas LGTBQIA+ que são artistas dominando os palcos e os festivais e expandindo sua arte para outros lugares. Eu quero é que tenha mais! Muitos mais festivais, muito mais pessoas LGBTQIA+ que são artistas em destaque. São vários recortes, então não é possível que apenas eu represente tantos outros que fazem parte desta sigla. A gente precisa de pluralidade para que de fato exista uma representatividade que alcance todas as pessoas.
Ouça Urias – Her Mind:
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