Entrevista | Paulo Hilu

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CRISE POLÍTICA NÃO É CRISE CULTURAL

Há aproximadamente cinco meses começaram as revoltas políticas no Oriente Médio. Insatisfação, desigualdades sociais e opressão da ditadura. Vários foram os motivos para o povo, depois de tantos anos, se rebelarem. O primeiro País a começar com as revoltas foi a Tunísia. Logo depois, as ondas de rebeliões se espalharam pelos outras nações. A queda de Mubarak e dos outros governos ditatoriais pararam o mundo. O fenômeno contou com a ajuda do utensílio mais usado nessa nova era: a internet e suas redes sociais. Mas, de fato, o quanto isso foi determinante nas revoltas? E qual foi o real papel dos Estados Unidos? Quem responde a essas e outras perguntas é o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Paulo Hilu. Também escritor, formado em medicina e sociólogo, ele fala de como fica a questão cultural nesses países e que o termo “ocidentalização” não significa nada.

Por Valentine Herold
Especial para a Revista O Grito!

Todos têm falado como a internet e as mídias sócias influenciaram as revoltas no Oriente. Qual foi a real contribuição da internet nesse processo?
A internet foi, na verdade, um grande facilitador. Foi um instrumento que permitiu que as redes que já existiam no universo físico se integrassem e, assim, compartilhassem conhecimentos e ideias, mas não foi ela que produziu essas conexões. A internet e as redes sociais funcionaram enquanto um verdadeiro catalisador, um autofalante.

Qual foi o verdadeiro papel dos EUA nas revoltas e qual o real interesse deles?
Nenhum. Os americanos foram pegos de surpresa, tentaram impedir a derrota do governo Mubarak e dos outros governos ditatoriais e agora estão tentando recompor as alianças com as novas forças políticas. Eles não sabiam o que ia acontecer e não tiveram nenhuma participação. Não planejaram nada antes das revoltas e se viram sem ação logo no começo do embate, tal como as outras nações envolvidas.

Podemos prever uma futura ocidentalização dos países árabes?
Esses países já compartilham cultura de massa globalizada, bebem coca-cola e comem Mac Donald’s…Todas as culturas são abertas e recebem informações uma das outras. As árabes, americanas e européias. Não faz muito sentido esse termo “ocidentalização”. Tanto porque essas trocas acontecem há pelo menos 1600 anos. Não é novidade.

Você acha que, nesse caso, a crise política leva a uma crise cultural também?
Não necessariamente. A crise política permite novas formas de cultura. Isso não quer dizer que a cultura entre em crise e mude drasticamente. Claro que vão surgir certas mudanças e novas formas de arte, música…Tanto que a melhor música brasileira em minha opinião foi produzida na ditadura.

Qual é a importância do cinema, das artes plásticas e da literatura em tempos de revoltas nos países árabes?
Esses países já têm uma longa tradição de cinema e literatura de engajamento político. A produção artística em todos eles tem uma dimensão política grande há muito tempo. Claro que essas manifestações sempre são importantes num momento de revoltas e mudança política Mas não é nenhuma novidade a relação das artes com a política nesses países árabes. Sempre foi muito importante.

Você acha que haverá uma grande mudança das artes nesses países de agora em diante?
É difícil saber. Eles têm uma produção artística muito variada e desde sempre. Não acho que as revoltas vão trazer nenhum “terremoto” no sentindo cultural não. Mas claro que esse momento de mudança política é sempre muito propício para o aparecimento de novas formas artísticas. Mas essa mudança provavelmente não vai ser muito drástica não.

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