Marcio Debellian (Foto: Divulgação)
Prazer, (En)cantado!
Conseguir os direitos autorais de todas as músicas que estão no documentário Palavra (En)cantada, em cartaz em circuito nacional desde sexta passada, foi o maior desafio encontrado pela equipe envolvida em sua realização. Imaginem como teria ficado se já vivêssemos o tempo em que copyright não será mais um problema. Por isso o longa, que premiou a diretora Helena Soldberg no Festival do Rio 2008, tratou de levar ao público alguns dos mais brilhantes casamentos entre música e poesia do país. Assim, para não deixar por menos. O que se segue são músicos, poetas e escritores de projeção estelar fazendo a ponte entre sons e palavras – um revigorante assunto para quem normalmente só fala de uma coisa ou de outra.
“Sinto que o filme organiza um pensamento sobre coisas que a gente sente e vive em relação à música e poesia no Brasil, e isso acaba gerando uma certa identificação. O Palavra (En)cantada mexe com a nossa auto-estima… este tem sido um comentário recorrente”, diz Marcio Debellian, autor do argumento do documentário e que também assina o roteiro junto com Helena e Diana Vasconcelos. Ele falou com O Grito! sobre os versos técnicos e as melodias afetivas envolvidos em vários aspectos do filme.
Por Joana Coccarelli, colunista do Grito!
QUANDO SURGIU A IDÉIA DO DOCUMENTÁRIO?
No começo de 2005. Apresentei um projeto à Bienal do Livro para realizar pocket-shows de música e poesia durante o evento. O objetivo era mergulhar no universo particular de grandes compositores brasileiros, seus livros e autores preferidos, e como a relação de cada um com a poesia/ literatura influenciava o seu processo criativo. Já estava há algum tempo fascinado pelas constatações sobre este encontro entre poesia e música, não parava de pesquisar o assunto. O conceito do projeto era trazer música, leitura de poesia e bate-papo para espetáculos pequenos, de atmosfera intimista. Mas acabou crescendo e se transformando em um longa-metragem. A pessoa que sugeriu transformar esta idéia num filme foi a Maria Arlete, do Oi Futuro.
Lenine (Foto: Divulgação)
SOBRE A RELAÇÃO MÚSICA/ POESIA: O QUE MAIS TE MARCOU NA FASE PRÉ PALAVRA (EN)CANTADA?
Nunca me esqueço quando li o encarte do disco do Lenine falando sobre o trovador provençal. Aquilo foi uma surpresa. No mesmo dia li o Caetano falando sobre As Palavras, de Sartre, dizendo que dali tinha tirado os versos “Nada nos bolsos ou nas mãos” de “Alegria, Alegria”. Eram várias formas de ligação entre música, literatura e poesia estimulando a minha curiosidade.
COMO SURGIU A PARCERIA COM A DIRETORA DO FILME, HELENA SOLBERG?
Conheci a Helena (foto ao lado) na época do lançamento do seu último longa, “Vida de Menina”. Fiz uma consultoria para o plano de divulgação do projeto e acabamos ficando amigos. Acho que havia uma troca interessante em diversos aspectos, inclusive por sermos de gerações tão diferentes. Quando veio a idéia de fazer o Palavra (En)cantada, ela foi a única cineasta que procurei e apresentei o projeto.
FOI DIFÍCIL TER ACESSO AOS CANTORES E POETAS?
As pessoas foram abertas e receptivas ao projeto. O mais complicado foi conciliar a nossa agenda de filmagem com a agenda destes artistas, que são super requisitados. Tínhamos que encaixar duas entrevistas por dia para otimizar o custo de produção.
COMO FOI A PRÉ-ESTRÉIA EM PARATY?
A FLIP é uma platéia especial, interessada no assunto. Foi muito emocionante o primeiro teste do filme com público. A recepção foi muito calorosa. Assim que acabou, a repórter de uma rádio me perguntou: “como você está se sentindo com este estrondo?”. Achei um pouco de exagero, mas achei curioso ela ter usado esta palavra para definir a nossa primeira sessão. Na verdade, achei que todos estavam “soltinhos” por causa do coquetel antes da sessão e foram calorosos em excesso. Só fiquei confiante quando a segunda sessão, que foi num domingo às 13hs, num dia de sol quente, ficou igualmente cheia e teve boa repercussão.
E NO FESTIVAL DO RIO?
Foi outra emoção ver 600 pessoas no Odeon e aquela recepção calorosa. Teve até aplauso em cena aberta, mas eu sempre desconfio que foi algum amigo que puxou!
FOI FÁCIL CAPTAR RECURSOS PRO FILME?
Conseguir patrocínio significa gastar sola de sapato, pegar muitos aviões para São Paulo, persistir bastante e ter muitos santos protetores abrindo caminho. Entrei em contato com mais de 40 empresas, tive muitas reuniões e, em um ano, conseguimos levantar todo o orçamento do filme. Não ganhamos nenhum edital público, todos os nossos patrocinadores são empresas privadas que não tinham tradição de apoiar cinema. Para você ter uma idéia, a primeira vez que a Livraria Saraiva usou lei de incentivo foi com o Palavra (En)cantada, então, o trabalho de convencimento foi dobrado.
QUAL O MOMENTO ALTO DO DOCUMENTÁRIO, NA SUA OPINIÃO?
Tenho relação de afeto com diversos momentos do filme. Sei como cada pedaço chegou ao seu lugar, porque cada música e cada poesia foram escolhidas para o roteiro, então acaba sendo difícil ter uma preferência específica, mas sinto que o público se diverte muito nas passagens que abordam o movimento tropicalista.
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