Laerte no lançamento de Piratas do Tietê. Foto: Gil Tokio
MELHOR PERSONAGEM
Por Paulo Floro
Laerte Coutinho rejeita o adjetivo de gênio, mas críticos e jornalistas ouvidos pela revista não poupam elogios à obra do cartunista. Seu mais recente livro, Laertevisão – Coisas Que Não Esqueci foi eleito a obra em quadrinhos do ano. Em mais de 20 anos de carreira, é o mais diferente, e revelador livro do cartunista.
Sobre as memórias que desenha no livro, seus antigos personagens e melhores do ano, Laerte conversou com O Grito!
O GRITO!: Como você responde ao adjetivo de “gênio”?
Laerte: Ao adjetivo aplicado a mim? Com uma raquetada seca. Gênio é o Millor, gênio é o Robert Altman, gênio é o Caetano. Eu, não.
Neste último ano, você abandonou alguns personagens para se dedicar a um olhar sobre o cotidiano e questões metafísicas e filosóficas em suas tiras. Poderia falar um pouco sobre isso?
Na verdade, comecei a buscar essa outra estrada lá por 2004; em 2005 fui em frente, parando com personagens e com o tipo de humor que eu fazia. E começando uma busca, que acho que não tem fim. Às vezes faço um auto-relatório, pra saber se estou buscando um novo sistema, e ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Tenho uns poucos parâmetros pra trabalhar. Um deles é o esforço permanente para não tentar “responder” a critérios ou expectativas quaisquer, de amigos ou não, favoráveis ou não. Outro é procurar beber em alguns procedimentos plásticos e conceituais que eu usava na juventude e que acho que abandonei cedo demais, em função de um desempenho profissional. Em 2007 dei um tempo nessas tiras e republiquei trabalhos do tempo do Classifolha. Voltei à carga faz uns meses.
Como esse é um especial de melhores do ano, te pergunto quais foram as melhores coisa de 2007 para você, Laerte?
Não sei dizer – minha memória anda bem ruinzinha. Prefiro quando tem lista pra votar. Gostei, por exemplo, do Na Prisão, que a Conrad lançou. Gostei do Isaac, o Pirata. Mas não sei se é de 2007.
Quando teve a idéia de se fazer personagem? Como foi para você fazer Laertevisão?
Foi uma boa viagem. Eu tinha ess espaço na Folha pra falar de e sobre televisão. E a certa altura o assunto me pareceu não digo esgotado, mas saturado. Resolvi procurar uma saída pessoal. E achei, no fato de que temos, eu e a televisão no Brasil, uma idade parecida.
Do que mais sente saudade?
Acho que dos desenhos animados. Nos anos 50, não tinham começado a produzir desenhos para a TV, e então passavam as produções de cinema. E coisas muito antigas, dos anos 30 e 40, também. E tudo com o som original.
A edição da Conrad ficou muito bem acabada. Como surgiu a idéia de fazer o livro, e de até mesmo usar suas fotos pessoais?
A idéia inicial, o conceito de um livro de quadrinho com menos “cara de quadrinho”, é do Rogério de Campos. O trabalho gráfico,a edição das imagens, é o meu filho Rafael e do coletivo dele, Base-V. As fotos quem tinha guardado foi a dona Lila, minha mãe.
Você publica na Folha de São Paulo e em outros jornais todo dia. Como lida com a rotina?
A rotina me dá uma segurança que eu prezo. Não sei se conseguiria muita coisa no vôo livre total…
Dos quadrinhistas brasileiros que surgiram recentemente, quais você acompanha e admira?
Bom, tem o Rafael, que publica no zine Sociedade Radioativa – onde também publicam outros caras de quem eu gosto muito: o Caeto, o Tiago Judas, o Ulisses, a Luiza, o Gisé; gosto do Vinicius Mitchell, do Fábio Lyra, do Fábio Moon e do Gabriel Bá, tá vendo quanta gente? Ainda tem os menos recentes, mas recentes em relação a mim, como a Chantal, o Arnaldo Branco, o Zé da Silva, o Benett…
Você, que criou o personagem Deus, conta em Laertevisão experiências como coroinha. Como vê a religião hoje em dia?
A religião hoje em dia ou eu hoje em dia? Acho que os dois mudamos, pra mais longe um do outro. Tenho laços com a minha formação de católico, adoro aquela mitologia enorme e extravagante; mas não sou mais religioso há muito tempo.
Seus leitores e fãs pedem a volta de antigos personagens ou mesmo dos Piratas?
Pedem, às vezes. Não muito. Eu fico tentado a retomar a coisa, mas acho que não é o caso. Eu precisaria de uma quantidade de energia que não tenho mais.
Laerte, conta um pouco dos projetos novos. O filme dos Piratas, em que pé está?
O filme está sendo feito pelo Otto Guerra e está em fase de desenvolvimento de roteiro. Quem está fazendo (o roteiro) é o Gilmar Rodrigues, com quem trabalhei no tempo do TV Colosso e Sai de Baixo, e que hoje faz o Ignorância Times.
O que te motiva a desenhar?
Hoje em dia, pouca coisa, pra falar a verdade. Ô, idade…
Site Oficial: Laerte.com.br
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