Entrevista Iconoclasts

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SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS
Um foco indie original que procura trazer algo de novo à vida quotidiana com espírito agressivo e perfeccionista

Por Pedro Salgado
Colaboração para a revista O Grito!, em Lisboa

O sangue e o suor de uma experiência intensa vivida em palco e as lágrimas resultantes da passagem de Iconoclasts EP, de 2009, para o conjunto de canções que formam o álbum “Mt. Erikson”, traduzem a história de Diogo Carneiro e Pipa Marinho (vocalistas), Sérgio Dinis e Vitor Hugo Azevedo (guitarristas), Pedro Coelho (baixista) e Ricardo Ramos (baterista).

Num dos shows de apresentação do novo trabalho, na Musicbox, em Lisboa, no passado dia 23 de Setembro, o sexteto lisboeta praticou um diálogo vocal intenso e um movimento simbiótico contínuo dos músicos que não dispensou a elevação física e a combatividade. Por vezes, exibiram encantamento ou subversão, mas foram sempre magnéticos.

Apenas com três anos de existência, a maturidade e autenticidade do grupo é uma realidade que em última análise os fizeram vencer a edição de 2011 do conhecido Festival Termómetro e o catapultou para uma visibilidade merecida. Em conversa com a Revista O Grito!, o The Iconoclasts falou do novo trabalho e da alma da banda.

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Quando compuseram os temas de “Mt. Erikson” tinham em mente algum objectivo específico?
Começamos a trabalhar neste disco há cerca de dois anos e, na época, já tínhamos um EP a circular. Na altura, pretendíamos consolidar o que tínhamos aprendido na estrada, aproveitar algumas das influências, amadurecer o nosso estilo e manter a agressividade. Mas, o objetivo era também aliar esses elementos a algo mais sólido. Não tínhamos em mente nenhum estilo específico e o que se escuta no álbum é uma convergência de todas essas variáveis. Em termos de escrita, o Diogo evoluiu bastante como letrista desde o nosso primeiro registo e este trabalho, de certa forma, é em parte conceitual, no sentido em que são trabalhadas temáticas muito específicas de uma forma solta, mas confluindo para uma determinada estética.

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Dismemberment Plan, Pixies, Smiths e Sonic Youth são algumas das influências do The Iconoclasts. Até que ponto se sentem devedores dessas bandas?
Não nos sentimos devedores de nada nem de ninguém. Quando se escuta a nossa música, essas bandas são as influências mais imediatas e fáceis de apontar como idênticas ao conjunto. É um consenso a que nós chegámos, mas há outras referências que não são comuns aos seis integrantes do The Iconoclasts.

No meio da estridência indie da vossa última actuação na Musicbox, vislumbrei uma ideia de manifesto nas palavras cantadas. Concordam ?
A nossa meta não passa por sermos a segunda banda preferida de ninguém. Pretendemos trazer algo de novo à vida das pessoas e incorporamos uma ideia contrária, e genuína, a ser a última resposta que a música tem para dar aos indivíduos.

“Speedway” aparenta revelar alguns contornos melódicos. Foi intencional?
Nada do nosso trabalho tem uma intenção direta, simplesmente, o que aconteceu, quando compusemos a canção, foi revelar um espírito de pura diversão e menos elementos emotivos. Ou seja, um resultado menos stressante, mais leve e divertido. “Speedway” acaba por ser uma música musicalmente muito relaxado e ingénuo, até certo ponto. Por esses dias, escutávamos o álbum da banda indie francesa Wolfgang Amadeus Phoenix e aquilo soou-nos a uma pop muito bem feita. Digamos que foi uma incursão dentro desse universo e esperamos que agrade (risos).

Voltando ao show, senti que a música ganhou mais groove quando a seção rítmica combinou com os teclados. Pretendem enveredar por este caminho mais vezes?
No momento, promovemos o disco “Mt. Erikson”, mas, até ao final do ano, estaremos a tocar material novo. Ainda não temos ideias sobre como soarão as novas canções e a única noção actual é de não fazer o mesmo trabalho duas vezes e querer aperfeiçoar a nossa música. Estamos a experimentar com instrumentos diferentes, samplers e teclados. Sentimos que a seção rítmica está a funcionar bem, agrada às pessoas nos espectáculos e achamos que é algo visceral. Vamos ver o que resulta melhor e em 2012 pensaremos no novo álbum.

Que tipo de Iconoclastas são vocês ?
Somos do tipo de não levar a sério a iconoclastia (risos). A nossa rebeldia é muito tributária, um pouco infantil e não é para ser levada muito a sério. A música do The Iconoclasts, ao juntar as influências dos nossos ídolos, acaba por soar a algo diferente e não é fácil apontarem-nos o dedo. O fato de ser complicado dizer quais são os modelos do grupo já é revelador de uma certa irreverência. Mas, abdicamos da iconoclastia no verdadeiro sentido da palavra e não queremos destruir ícones ou conceitos. Não somos preconceituosos, mas temos algum tacto nos caminhos que escolhemos.