Entrevista: Halder Gomes, diretor de Cine Hollyúde

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Foto: Divulgação
Foto: Reprodução/Facebook
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PENSE NUM FILME JOIADO
Falado em cearês com legendas em português e desafiando lógicas de mercado, Cine Hollyúde é o fenômeno do ano

Por Paulo Floro

Halder Gomes é um cineasta obstinado. Lutador de jiu-jitsu apaixonado por cinema, ele defendeu o projeto do filme Cine Hollyúde apesar de todos os sinais contrários de que aquilo não daria muito certo. Falado em cearês e legendado em português, com distribuição setorizada começando no Nordeste, fora do eixo Rio-SP, o longa desafia convenções do cinema brasileiro.

Para completar, faz comédia com referências pop e sem o humor insípido a que fomos acostumados. O resultado dessa mistura improvável deu certo. O filme fez uma das maiores bilheterias nacionais este ano, mesmo contado apenas com nove cópias (Minha Mãe É Uma Peça teve 406 cópias). No primeiro final de semana de estreia, no Ceará, a arrecadação bateu R$ 270 mil. Em sua terra natal, a produção fez barulho, com filas em muitos cinemas.

Em seguida, o filme estreou no Recife e foi sendo distribuído para outras cidades. Neste final de semana estreia em São Paulo, onde deve alavancar ainda mais o número de espectadores. Como se diz em cearês, pense num negócio joiado da mulesta. O longa conta a história de uma família e seu desafio de manter um cinema em uma pequena cidade do interior no momento da chegada das televisões.

Cine Hollyúde serve para refletir sobre o fim dos cinemas do interior (Divulgação)
Cine Hollyúde serve para refletir sobre o fim dos cinemas do interior (Divulgação)

Veja a entrevista que fizemos com Halder.

Cine Holliúdy vem sendo chamado de “fenômeno do cinema brasileiro”, com um público expressivo em Fortaleza e boa recepção no Norte/Nordeste. Esperava essa repercussão?
No Ceará esperava sim um bom público. O sucesso do curta O Artista Contra o Caba do Mal – filme que inspirou o longa- havia formado um plateia local, e até mesmo em outros Estados. Mas o que a gente não espera é ver o filme ser a maior bilheteria cearense em todos os tempos, batendo Titanic, Avatar, Vingadores, etc. Tanto em números totais, como em média por cópia (no momento, 270 mil espectadores e média de 27 mil por cópia).

Cine Holliúdy levanta um debate hoje sobre o fim das salas de cinema em pequenas cidades. Muitas foram vítimas da especulação imobiliária ou da concorrência com multiplex. Você tinha isso em mente quando vez o filme?
Sim, queria que o filme ao seu final levantasse a reflexão da falta de cinemas no interior. Por quê privar estas populações deste entretenimento/cultura? E o filme provocou movimentos interessantes. Tenho recebido abaixo-assinados de pessoas do interior reivindicando cinema em suas cidades, assim como prefeitos me perguntando como fazer para abrir um cinema. E a cidade de Arcoverde, interior de Pernambuco, reabriu seu cinema – um dos mais antigos do país, de 1917 – e o Cine Holliúdy foi o filme de abertura.

Você enfrentou muitas críticas por colocar legendas no filme por causa do “cearês”?
Na verdade, não. Pelo contrário, virou uma ótima ferramenta de promoção. A Downtown Filmes propôs legendar o filme inteiro, ao invés de trechos apenas, e usar esta particularidade pra despertar uma curiosidade no espectador.

O que achou da estratégia de fazer o lançamento do filme por regiões, começando por Fortaleza, depois Recife, etc? É um modelo interessante para filmes indies como o seu?
Funcionou muito bem! Foi uma estratégia ousada, na contramão de tudo que o mercado propõe. O Ceará jamais seria pensado como uma plataforma de lançamento. Isso quebrou um paradigma e mostrou que o Brasil, pode, sim, ter um cinema regional com plateia em massa que encoraje uma produção voltada para este mercado, a princípio.

Sendo um filme com uma identidade tão forte do Ceará, o que achou da repercussão do filme em São Paulo, Brasília e até em Bangkok, onde o filme foi exibido?
O filme, além do seu teor regional, fala de sentimentos universais: família, superação, sonhos. E por onde passa, tem agradado a todas as classes sociais e faixas etárias. No Ceará, é comum ver três gerações juntas nos cinemas. Nos festivais pelo Brasil e mundo afora não foi diferente. As pessoas riem, se divertem e se emocionam.

O Ceará jamais seria pensado como uma plataforma de lançamento. Isso quebrou um paradigma

Sua produção é bem extensa nos últimos dez anos. Com a experiência que tem, qual o maior desafio hoje para fazer filmes no mercado nacional?
O maior desafio sempre esbarra na captação. Existe muito dinheiro incentivado no mercado, mas a função do produtor no Brasil é escassa, e na maioria das vezes cabe ao realizador empreender e buscar estes recursos.

Quais suas maiores influências como diretor? O que você gosta de assistir?
Não tenho influências específicas, mas um grande caldeirão de reverências que gosto de referenciar nos meus filmes, que vão da pintura barroca a Bruce Lee. Meu gosto é muito eclético e não tenho preconceito contra nenhum estilo, estética, narrativa, gênero, etc. De Blockbuster hollywoodiano ao cinema francês, assisto tudo.

Foto: Divulgação
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Depois de Cine Holliúdy, você já tem planos para novas produções?
Sim, já estou desenvolvendo junto com a Downtown Filmes mais dois projetos. Um deles, O Shaolin do Sertão (comédia/ação), deverá ser rodado em 2014, ou 1º semestre de 2015. O outro, ainda está em fase de argumento.

O cinema de Pernambuco vive um bom momento há alguns anos e agora longas do Ceará também estão chamando atenção. Qual o maior desafio hoje em produzir em Fortaleza (e aqui no Nordeste, em geral)?
A resposta pode parecer redundante, mas sempre é a falta de recursos. No Ceará, especificamente, os recursos disponíveis suficientes para bancar um filme, ficam restritos a poucas grandes empresas, que por sua vez, tem suas próprias fundações e investem estes recursos nas mesmas. Do ponto de vista técnico e artístico, temos talento e estrutura pra produzir com alta qualidade.

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