Entrevista: Dexter

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Dexter foi ex-detento do Carandiru: "presos são seres humanos. Ainda há muito preconceito". Foto: Guilherme Kastner
Dexter foi ex-detento do Carandiru: "presos são seres humanos. Ainda há muito preconceito". Foto: Guilherme Kastner
Dexter foi ex-detento do Carandiru: “Ainda há muito preconceito”. (Foto: Guilherme Kastner)

Depois de 13 anos preso, rapper Dexter comemora liberdade com novo trabalho: “hip hop salva vidas”

Ele é uma das atrações do PE no RAP, que acontece no Recife esta sexta

O rapper paulistano Dexter se apresenta pela primeira vez no Recife como uma das atrações do PE no Rap, um dos primeiros eventos de grande porte dedicados ao gênero na cidade. Conhecido por ter sido ex-detento do Carandiru, o músico está em liberdade há dois anos e gravou recentemente seu terceiro DVD, que deve chegar às lojas até o final do ano.

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A carreira de Marcos Fernandes de Omena, 39 anos, o Dexter, começou em 1990 quando formou o grupo Snake Boys e, em 1993, gravou sua primeira música, intitulada “Animais Irracionais”. Em 1994, o grupo passa a se chamar Tribunal Popular. Quatro anos depois, Dexter foi preso. Em 1999, já na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru), foi um dos fundadores do Grupo 509-E. Com hits como “Provérbios 13” e “MMII DC (2002 Depois de Cristo)”, ele foi alçado para o primeiro escalão no rap nacional. Mano Brown, dos Racionais MCs, costuma dizer que ele é o “quinto elemento” dos Racionais. Depois de passar 13 anos preso, Dexter leva sua experiência de vida atrás das grades para o seu DVD A Liberdade Não Tem Preço.

“Dentro da prisão o que existe são seres humanos. Mas a TV não mostra isso. O que se vê é a rebelião, mas não as causas que levaram à rebelião”, disse em entrevista à Revista O Grito! por telefone. “As pessoas têm preconceito, acreditam que estamos gastando o dinheiro dos impostos dele. Temos que rever conceitos, investir mais na educação”. Desde a época do 509E que Dexter tenta destruir o estigma que ainda existe entre as pessoas que entraram no sistema prisional brasileiro, um dos mais cruéis do mundo em relação ao desrespeito aos direitos humanos.

“O hip hop é a saída para mudar muitos desses problemas. Hoje nós temos voz contra o preconceito, vou no Serginho Groissman falar de nossas necessidades, levar uma pauta de discussões”, conta. O rapper acredita que o rap é a verdadeira linguagem das ruas e faz um link com os recentes protestos que tomaram conta do Brasil nos últimos meses. “É incrível como o hip hop salva vidas, conscientiza as pessoas. Já estávamos falando de todos os problemas nas comunidades há muitos anos. Basicamente cantamos sobre as mudanças que queremos. Muito já se mudou, mas ainda a situação do jovem negro ainda é muito ruim no País”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Hip Hop não tem preço
A liberdade no título do novo DVD de Dexter também pode ser aplicado para a proposta musical de misturar o rap com outros gêneros, como samba e rock. O DVD teve participação de Paula Lima, Péricles, Guilherme Arantes, além dos velhos parceiros como Mano Brown e Thaíde.

“A mistura no rap quando é bem feita é muito bem-vinda. Isso também ajuda muitos críticos a perderem o preconceito com o gênero”, diz Dexter. “Foi ótimo gravar o DVD com pessoas que ouvia nos anos 1980, como foi o Guilherme Arantes. Foi uma honra para mim encontrá-lo e ainda mais pelo fato dele pedir para participar. O disco e o DVD devem chegar no final deste ano. O show de Dexter no PE no Rap acontece nesta sexta (6) e ainda há ingressos à venda. Mais detalhes aqui.

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