Foto por Renata Pires/Divulgação.
Foi em Altinho, pequena cidade no Agreste pernambucano, onde o cantor Almério começou a ter contato com a música e recebeu as suas primeiras influências. Não parou por aí. Mais tarde, juntou-se ao Reverbo, movimento no Recife que conta com músicos da capital e também do interior do estado. “Altinho mora minha criança, de pés descalços, o início de tudo, o olho d’água, o Rio Una, as primeiras músicas, o romper da voz, descoberta da sexualidade”, afirma o artista, em entrevista à Revista O Grito!
A movimentação é talvez o mais importante agrupamento musical de cantores e compositores dos últimos tempos no país. Almério, um dos grandes representantes da nova cena musical pernambucana, tem uma das facetas mais talentosas dos músicos que integram o movimento.
Antes do trabalho com Martins, Almério lançou registro fonográfico em 2014, em 2017 – o ótimo Desempena -, em 2019 a partir de um show com a cantora Mariene de Castro e em 2021 sobre a obra de Cazuza.
Em 2018, Almério ainda ganhou o Prêmio da Música Brasileira como Cantor Revelação, além de ter sido indicado na categoria Melhor Cantor, com Chico Buarque e Lulu Santos.
A estreia nacional do mais novo trabalho, o show Nesse Exato Momento, será no Teatro do Parque, no Recife. ”Vai ter participações muito especiais, um show muito pulsante, que exalta nosso presente, nosso estado de agora, estalactites do tempo rompendo a película da percepção! Um convite ao mundo real, à minha poesia!”, destaca Almério.
Sobre o novo disco, o músico se diz honrado de estar com tanta gente que é referência. “Quando fiz o repertório do disco percebi que tinha muitas compositoras presentes, parcerias com Joana Terra e Ezter Liu, Ceumar, Isabela Moraes, e Zélia Duncan que também canta comigo “Suspiro” que é de Ana Paula Marinho. Ainda cantam no disco Juliana Linhares e Mariana Aydar. Pra abençoar tudo, a maior voz de todas, a Deusa Maria Bethânia, a fonte inesgotável da beleza!”, revela
Em entrevista, Almério fala do novo trabalho, início de carreira, parcerias e mais. Acompanhe:
Vamos falar um pouco da sua história. Por que você começou a cantar?
Penso que esse rio corre por dentro de mim desde sempre, canto desde sempre! Me entender cantor compositor como profissão foi em 2003. Estar a serviço da música é um lugar seguro e de muita intimidade, de muito respeito e beleza! Canto pra exaltar existências, sobretudo a minha!
De onde surgiu a necessidade de criar músicas que falassem sobre a realidade à sua volta?
Na lida, as experiências vão apurando o olhar e os sentidos e passei por transformações muito importantes no mundo. Vi chegar a era do CD, da revolução digital. Vivemos numa velocidade violenta e impossível e penso minha música como agente de transformação, como ela pode impactar positivamente nas pessoas! Eu sou o tempo que existo, como quase todo artista – os que alimentam minha alma são assim!
Você é natural de Altinho, mas radicado em Caruaru, no Agreste do estado. De que forma estes lugares ocupam você? De que forma influenciam o seu trabalho?
Duas fontes preciosas. Altinho mora minha criança, de pés descalços, o início de tudo, o olho d’água, o Rio Una, as primeiras músicas, o romper da voz, descoberta da sexualidade, do amor, mas também da dor de ser uma criança viada que já sofria o preconceito de uma sociedade estruturalmente machista e homofóbica! A música era bunker, escudo para as violências brutais que essa criança atravessava em silêncio!
Caruaru foi o Oásis, onde pude abrir meu baú repleto de desejos, sonhos e esperança! Onde me encontro com a cultura popular, as bandas de Pífanos, os artistas contemporâneos, o teatro, a noite efusiva dos bares, os poetas, as feiras, artes plásticas, escritores, jornalistas, tudo pulsando! Meu primeiro show, desde então, aqui estou eu conversando com O Grito!
Como foi pensada a sonoridade do álbum?
Queria muito fazer um disco de sonoridade robusta, forte, percussivo, mangue, rock & roll, MPB, minhas referências! Então chamei Juliano Holanda, que, além de ter uma bagagem muito rica, me conhece muito bem, conhece cada gesto meu, cada olhar, e sabe reagrupar minhas ideias como ninguém. Consigo tocar nas texturas que ele cria!
E como foi agregar diversas compositoras e vozes femininas ao novo disco?
Naturalmente eu sempre fui cercado dessa força feminina, desde pequeno, sempre compus com mulheres, é um universo que sempre me acolheu, pois o mundo masculino era muito violento pra mim, pra uma criança com trejeitos, então sempre me abriguei nessa força feminina. Quando fiz o repertório do disco percebi que tinha muitas compositoras presentes, parcerias com Joana Terra e Ezter Liu, Ceumar, Isabela Moraes, e Zélia Duncan que também canta comigo “Suspiro” que é de Ana Paula Marinho, que foi com quem comecei a compor! Ainda cantam no disco Juliana Linhares e Mariana Aydar, em um xote nervoso e sensual. Pra abençoar tudo, a maior voz de todas, a Deusa Maria Bethânia, a fonte inesgotável da beleza!
Você começou cantando Cazuza? Qual a influência dele na sua formação? E já emendo: quais são as suas principais influências na música e nas artes?
Não comecei cantando Cazuza não. Ouvia muito quando adolescente, suas músicas me enchiam de coragens, ele sempre esteve presente no meu repertório de bar, quando cantava na noite, mas comecei cantando os compositores contemporâneos de Caruaru, e minhas próprias canções. Tenho muitas influências na música, mas hoje estou mais atento aos artistas da minha geração, dos compositores e compositoras, artistas plásticos como Diogum, Jeff Allan me emocionam muito, amo cinema, filmes de arte, amo visitar exposições, abastecer minha arte, deixá-la mais forte e atemporal!
Você acha que o papel dos artistas é de resistência, mas também despertar esperança?
Nem sempre né!? Nem todo artista tem esse comprometimento. E tá tudo bem também! Mas pra mim só tem sentido assim. Gosto que minha arte tenha esse poder de reativar nas pessoas esperança, amor, que possa fazer sonhar, questionar, e fazer florescer!
Como é ser artista LGBTQIA+ no Brasil?
Difícil, muito difícil, mas aqui estou. Hoje canto por muitos, para inspirar pessoas e outras artistas LGBTQIA+, mas os espaços pra gente são delimitados, tentam nos colocar nas caixinhas que não arranhem tanto o ego dessa sociedade machista e homofóbica, de crenças limitadas e fanatismo religioso! Mas a gente canta mais alto, tenta manter o brilho a todo custo, com muito trabalho, muita terapia, muita música, muito amor.
E há turnê do álbum novo para breve? Quando os fãs de Pernambuco poderão conferir o novo trabalho nos palcos do estado?
Dia 2 de maio é a estreia nacional do show Nesse Exato Momento no Teatro do Parque, Recife! Vai ter participações muito especiais, um show muito pulsante, que exalta nosso presente, nosso estado de agora, estalactites do tempo rompendo a película da percepção! Um convite ao mundo real, à minha poesia!
Ouça Almério – Nesse Exato Momento
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