Cida Pedrosa (Foto: Tuca Siqueira/ Divulgação)
DA MULHER
Em entrevista, escritora Cida Pedrosa fala sobre literatura da década de 80 e o seu próprio redescobrimento
Por Paulo Floro
A poeta Cida Pedrosa é remanescente de um tempo onde ainda se podia encontrar relevância num movimento poético dentro da Literatura Brasileira. Mesmo que seu Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco, do qual foi expoente não tenha alcançado holofotes em outras capitais do País, ainda hoje é lembrado na história da poesia brasileira.
Vanguardista e militante, Cida tem uma produção robusta, de quem não parou de escrever. O curioso é que ela só agora lança um livro por uma editora. É As Filhas de Lilith, que a Calibán lança no próximo dia 20, na Livraria Cultura do Recife. Aqui, a autora se jogou no universo feminino, com todas as minúcias e intempéries própria às mulheres. Mesmo “desconhecida” – seus livros anteriores não estão nas livrarias – Cida tem textos traduzidos para o espanhol e francês em jornais e sites pelo mundo.
As Filhas de Lilith tem ilustrações de Teresa Costa Rego, que acaba de completar 80 anos de vida e design de Jaíne Cintra. O resultado é uma edição bonita, vermelha, um tanto sensual e dolorida, por vezes. A Revista O Grito! conversou com Cida Pedrosa sobre seu novo livro, literatura feminina, internet e a nova produção poética brasileira.
NOS ANOS 1980, VOCÊ COORDENOU O MOVIMENTO DE ESCRITORES INDEPENDENTES DE PERNAMBUCO. COMO VOCÊ OLHA O MOMENTO POÉTICO HOJE, COMPARADO À ANTES, CHEIO DE RECITAIS DE RUA, PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS E ESCRITORES FAMOSOS?
O Movimento é minha cidadania literária. Os meus parceiros da época continuam sendo meus parceiros hoje, embora alguns já tenha se encantado. Acho que éramos muito jovens, eu, Francisco Espinhara, Eduardo Martins, Fátima Ferreira, Héctor Pellizzi, Raimundo de Moraes, dentre outros. O tempo era de luta pela liberdade, estávamos saindo da ditadura militar e tudo que aconteceu marcou muito quem participou e fez um registro na história literária pernambucana. Não se faz uma retrospectiva da história da literatura pernambucana sem citar o Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco. Isso já basta e é muito. Vejo nos recitais e movimento de rua que acontecem hoje uma alegre e saudável releitura de tudo que aconteceu na década de 1980 e isso vai se repetir sempre, afinal não fomos nós que inventamos a roda da palavra. Quanto aos escritores famosos isso é novo, também não sei se são tão famosos assim. Na década de 1980 estávamos longe da fama e o que conhecíamos mais próximo disso em Pernambuco era o César Leal e o Mauro Mota, o resto, nós, mesmo a geração 65 ainda beirávamos o portal da nossa cidade, não pautávamos a agenda nacional, e não sei se isso mudou muito não.
VOCÊ SEMPRE SE PAUTOU POR UMA FACETA PESSOAL, MAS É BEM CONHECIDA POR UMA VERTENTE SOCIAL. EM QUE CONTEXTO DE SUA VIDA NASCEU AS FILHAS DE LILITH?
Lilith é minha maturidade poética. Sou uma escritora em buscas do leitor e do entendimento. É minha primeira publicação por editora, a Calibãn, com distribuição nacional e incentivo do FUNCULTURA. Acho que esse livro é um caldo de cultura que existe dentro e para além de mim.
ESTE SEU NOVO LIVRO ABORDA O UNIVERSO FEMININO. AS POESIAS SÃO FRUTO DE EXPERIÊNCIAS SUAS, OU VOCÊ PREFERIU SE PAUTAR POR UMA ABORDAGEM MAIS UNIVERSAL DAS MULHERES?
Cada mulher tem uma história e vida própria. Algumas são da minha imaginação e objeto da invenção ou re-invenção desse cotidiano maluco. Outras eu conheci de perto ou de passagem, ainda tem as que eu ouvi falar, dizer e ler, mas, com certeza, algumas têm partes minhas.
VIMOS SUA VIDEO-POESIA NA FLIPORTO, ANO PASSADO. VOCÊ SE INTERESSA POR ESSAS CONEXÕES ENTRE TECNOLOGIA E POÉTICA? COMO FOI A EXPERIÊNCIA?
Acho que as interfaces que podemos criar entre a literatura e outras linguagens e expressões artísticas uma das coisas mais interessantes da atualidade. A interface com as novas tecnologias e novas mídias é a que tem mais me atraído. O vídeo-poema foi uma experiência muito legal. O trabalho da Tuca Siqueira ficou super bacana, ela é uma videasta talentosa e sensível à palavra. Quanto a mim acho que a poesia tem que ir para feira mesmo, se misturar, sair dos livros, ganhar o mundo, se reinventar.
TEREZA COSTA REGO ILUSTRA O PROJETO GRÁFICO. O QUE ACHA DO TRABALHO DELA?
Ela é uma mulher e tanto. Como pintora e como pessoa. A pintura dela tem uma verdade tão absoluta que incomoda. Faz um tempo que acompanho os trabalhos dela em exposições e a cada uma que vejo saio comovida e revigorada. É um presente ter ela e a Jaíne Cintra, que fez o design, como parceiras na edição de Lilith.
ATUALMENTE, TEM ACOMPANHADO A PRODUÇÃO POÉTICA NACIONAL? QUAL AUTOR PODE DESTACAR?
Eu não acompanho a cena nacional não. Continuo lendo os de sempre. Ferreira, Joaquim, Drummond, Bandeira, Adélia, Cristina César… e cada dia mais tenho lido literatura pernambucana. Acho que tenho um volume bem razoável de publicações desses poetas. Tirando a poesia de Alberto da Cunha Melo, pela qual sou apaixonada desde muito jovem, tem alguns poetas daqui que são bons demais a exemplo do Marco Polo Guimarães, Everardo Norões, Paulo Gervais, Raimundo de Moraes que tem dois livros lindos, arrebata tudo quanto é prêmio e nunca publicou em livro. Tem a Micheliny Verunschk e Jussara Salazar que são casos a parte, além de grandes poetas que estão na cena nacional. E aí meu amigo, tem o Miró da Muribeca que é uma outra história e tanta gente do xibiu que se eu continuar citando não cabe na internet (e quem eu não citei não pode ficar com raiva). E vou.