Entrevista Cadu Tenório, do Sobre A Máquina

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A resistência de Cadu

Por Renata Arruda

Enquanto o Rio de Janeiro vive a carência de uma cena musical estabelecida, vários artistas cariocas de diferentes influências começam a receber o apoio da rede para conquistar seus espaços – alguns, inclusive, conseguem chamar a atenção do público estrangeiro e chegam a dialogar com a grande mídia. É o caso de Cadu Tenório e o seu projeto experimental Sobre a Máquina, que em 2011 chegou a ter seu segundo álbum, Areia considerado um dos melhores do ano em várias listas.

Mas ainda que tenha conquistado crítica e angariado alguns fãs dentro do seu nicho, Cadu lamenta a dificuldade para chegar a um número maior de pessoas, “Ainda sinto uma dificuldade em alcançar certos palcos, e certas pessoas. Existe uma barreira de públicos acirrada. As pessoas não querem prestar atenção, querem algo que já seja mastigado, e isso acaba pasteurizando tudo, porque nos eventos a gente acaba preso sempre a uma temática ou uma vertente. Não existe nada misto, é sempre isso ou aquilo. O Sobre a Máquina sofre um pouco com isso por ser considerado um som de nicho”.

Mas, em vez de simplesmente lamentar a falta de oportunidade para tocar para um público mais abrangente, Cadu volta suas energias para criar outros projetos de nicho e até mesmo um selo onde pode abrigar todos eles, o recém-lançado TOC, netlabel inspirado nas gravadoras gringas idependentes de noise/industrial, montado em parceria com Thiago Miazzo. Segundo ele, o selo é “uma coisa diferente da Sinewave [gravadora que lança os títulos do Sobre a Máquina], abrangendo um tipo diferente de projetos, com estética diferente, e um fetichismo de lançar cassete tapes e cd-rs em edições limitadas com arte handmade. Vamos soltar o audio digital gratuito sempre e montar banquinha nos shows que derem”, enfatizando que a maioria dos projetos são de estúdio e não fazem shows.

No catálogo, a TOC traz artistas “que transitam entre Noise, Drone, Dark Ambient, Industrial, Minimal e afins”. Já disponível estão álbuns de Bemônio, GRUTA, Gimu  e dois projetos recentes de Cadu: Santa Rosa’s Family Tree e VICTIM!.

O primeiro, mescla elementos da sua própria música com ítalo disco no álbum “I Like To Smell The Dirty Panties That You Leave In The Bathroom”, que pouco se parece com seus projetos anteriores. ” Resolvi criar uma identidade pra abrigar a descoberta desse som que eu achei”, ele conta. O segundo, VICTIM!, já começa perturbador pelo título: “Sexually Reactive Child” (lançado em parceria com a Sinewave) e segue com todas as suas faixas de difícil audição intituladas como “Trauma” . Com influências de Death Industrial e Power Eletronics, ” I Like to Smell…” buscou nas trilhas dos filmes de terror a fonte para o seu Noise “sufocantemente claustrofobico” que, segundo Cadu, mexe com os traumas de sua própria vida. Pergunto se ele se considera uma pessoa angustiada:  “acho que sou meio angustiado, tenho uns problemas modernos, era um adolescente que não me dava bem com esportes nem pegava muito sol, deve ser por isso (risos). [A música] É uma válvula de escape, eu sou muito ansioso e sofro com uns transtornos de ansiedade.a música me ajuda um pouco com isso e sinto mais leve quando estou trabalhando criativamente.”

Santa Rosa’s Family Tree – Armpits by toclabel
Compositor desde a adolescência, talvez o violão com um buraco no corpo tapado com durepox (“fazia um som bem esquisito”) tenha ajudado a inclinar o músico para os seus “sons estranhos” : “sabia que não ia conseguir gravar nada convenional com ele, então resolvi tentar fazer uns sons de um jeito diferente. Assim nasceram minhas primeiras gravações que eu fazia com mic de pc, daqueles de um real e pouco e um computador velho”.

E assim manteve a sua direção, mais preocupado em canalizar sua ansiedade a  buscar um som mais comercial para conquistar público. “Digamos que eu precise manter a cabeça ocupada. Eu tenho outros projetos, mas geralmente giram em torno das minhas músicas mesmo.  Tem um projeto mais pop, com letras em português que chamei uma amiga pra cantar. Mas não sei se daria pra ter outra banda pra levar a sério, pra carregar a bandeira. Eu mal tenho tempo pra ter uma (risos)”.

E completa, lamentando sobre a dificuldade de manter a sério um projeto não-convencional: “é meio difícil, o Sobre a Máquina não tem nada praticamente e já foi DIFICÍLIMO chegar nesse nada; no sentido de que a gente teve que pôr um pouco as caras e se foder em várias paradas (risos). Principalmente nas primeiras tentativas de transpor o som ao vivo. Agora já considero que nos estabelecemos nesse sentido. E mesmo assim, ainda é difícil, porque a formação ao vivo acabou tendo que crescer e são mais pessoas que não vivem disso e que tem seus trabalhos, problemas”.

Ouça VICTIM! – Trauma#7

Toc Label

Conheça a TOC Label e baixe os discos http://www.toclabel.com/

Ouça a nova música do Sobre a Máquina, “Frio”, lançada com exclusividade na coletânea do site Hominis Canidae

Cadu Tenório também assina a coluna “Engrenagem”, no site Floga-se. (Veja aqui)