Angie Brown 16 min
Artista prepara novidades para 2023 e um retorno do seu maior hit. (Foto: Divulgação. )

Entrevista: Angie Brown celebra os 30 anos do hit da house music “I Am Gonna Get You”

Cantora do icônico grupo Bizarre Inc conta como redescobriu o amor do mundo por sua faixa e das novidades que prepara para o seu relançamento comemorativo

Um clássico das pistas de dança dos anos 1990 será relançado no ano que vem, com uma nova produção e videoclipe. Angie Brown, 59 anos, ex-vocalista do grupo inglês Bizarre Inc concedeu uma entrevista para falar sobre sua carreira, o sucesso mundial da canção e os novos projetos que celebram os 30 anos de “I Am Gonna Get You”. 

A música  foi número um nos Estados Unidos e no Canadá em 1993, de acordo com a Billboard Hot Dance/Disco Club. Além de ter sido  na época um dos singles mais vendidos no Reino Unido (mais de 200.000 cópias).

No Brasil, a canção tocou exaustivamente nas rádios e clubes noturnos, além de ter feito parte de coletâneas dance. Recentemente, a música também apareceu na série americana Pose, sucesso de público e crítica.

 “I am Gonna Get You” foi um sucesso mundial, como surgiu o convite para ser a vocalista do Bizarre Inc?
Eu costumava ir a um clube em Londres, chamado ‘Singers’, onde jovens cantores na época, como eu, podiam ir e cantar diante de um público, ao vivo. Era como estar no lugar certo e na hora certa. Foi um ótimo espaço para mostrar a minha voz, além de aprender o meu ofício de poder cantar e de se comunicar com uma plateia. Eu estava basicamente aprendendo como ser uma boa artista ‘ao vivo’, e cantava músicas como “Respect”, Aretha Franklin e “We Are Family”, da Sister Sledge’s, e o público realmente apreciava. Assim, eu ia a vários locais musicais em Londres, e haviam tantos que você poderia literalmente ir a um clube diferente a cada noite, e dessa forma tentar conquistar um nome. Então, em uma noite havia alguém muito especial na plateia. Ela era uma agente top em Londres que cuidava da carreira de uma série de cantores profissionais, e ela então estava perguntando sobre mim, queria saber tudo com quem eu havia trabalhado, e se eu estava disponível para trabalhar etc. Acabei recebendo um telefonema dela, e ela perguntou se eu podia cantar como Jocelyn Brown. Eu menti, e disse que “sim”. Eu queria tanto fazer essa sessão de estúdio e me convenci de que eu seria capaz de recriar a voz da Jocelyn, entende? Além disso “I Am Gonna Get You”, era originalmente um bootleg (Nota do Autor: o termo possui diferentes significados na música, mas pode ser uma gravação de uma canção com um vocal aleatório realizado em estúdio de forma não oficial) com a voz de Jocelyn. Na época ela estava cantando uma música, chamada “Love’s Gonna Get You” e foi quando conheci os rapazes do Bizarre Inc. 

E como foi a gravação desse hit?
Eles queriam apenas quatro linhas da canção original, apenas os trechos mais melódicos e contagiantes da música, e que todos já pudessem cantar após ouvi-la pela primeira vez. E foi exatamente isso que gravei. Imitei a Jocelyn o melhor que pude, e os rapazes do Bizarre Inc que eram três jovens produtores do norte da Inglaterra, ficaram completamente surpresos com o quanto ela soou próximo da gravação original. Uma vez que eles estavam satisfeitos com os meus vocais, eu realizei algumas improvisações ao longo de toda a faixa, e apenas três meses depois, ela estava nas paradas nacionais aqui do Reino Unido. Depois foi lançada globalmente pela gravadora, e se tornou o maior sucesso que cantei até hoje.

Aliás, sua música também apareceu na terceira temporada da premiada série Pose Como foi a repercussão considerando que a série americana foi elogiada pela crítica?
A série Pose era sobre ser negro e gay nos anos 1990, um momento difícil para se expressar sexualmente também. Era um som perfeito para as pessoas se encontrarem, se reunirem e mostrar para o resto do mundo como se divertir. Não tenho palavras para descrever, foi realmente emocionante assisti-la. Meus amigos me ligavam dizendo que a música estava tocando na TV, e meus filhos assistiram e curtiram como era aquela época. É como ser uma mosca voando alto e observando todos à distância. Sempre me surpreende, quando as pessoas correm para a pista de dança para dançar a minha música; ou se estou andando na rua, e ouço ela tocando no carro de alguém; ou no rádio; ou se está tocando na academia e, as pessoas se exercitam um pouco mais por causa dela. Isso me faz sentir honrada e também abençoada por poder ver esses sorrisos nas pessoas, e o quanto “I am Gonna Get You” significou para elas. 

Você já esteve no Brasil? “I am Gonna Get You” foi uma das músicas mais tocadas no país na época.
É absolutamente surreal como “I am Gonna Get You” foi recebida nos países da América do Sul. Infelizmente eu não sabia disso (sobre o sucesso da música no Brasil) ao contrário de hoje, onde a internet é tão informativa, podendo mostrar onde ela é tocada, quantas pessoas ouviram a minha canção etc. Eu sou DJ também, aprendi no período de confinamento global. Então eu vejo na minha página no SoundCloud mensalmente, e é assim que eu fico ciente dessas informações. Mas naquela época sem um gerenciamento e uma gravadora por atrás, eu não fazia a menor ideia que os amantes da House Music curtiam essa música no Brasil. Lembre-se que eu era uma vocalista freelancer há anos e sem vínculo com nenhuma gravadora. Eu não sabia que as pessoas da América Latina gostavam de house music, até mesmo por morar aqui em Londres. Infelizmente nunca estive no Brasil, é uma pena não ter visitado nos anos 1990, mas desta vez, com um novo lançamento de “I am Gonna Get You” para a primavera de 2023, com certeza espero visitar o Brasil.

“A verdadeira house music é atemporal, isso realmente pode unir mais as pessoas. “I am Gonna Get You”  já teve mais de 6 milhões de visualizações no YouTube. E se não fosse pela internet acredito que já teria sido esquecida a esta altura, ou pelo menos seria mais difícil de lembrar. “

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Como backing vocal, você já trabalhou com grandes nomes da música como Culture Club, Grace Jones, The Rolling Stones, Kate Bush, Chaka Khan, Fat Boy Slim, e muitos outros artistas. Como foi trabalhar com eles? Foi em turnês internacionais ou em estúdio? E com quem foi a experiência mais memorável?
Sim. Eu trabalhei com uma enorme lista de artistas conhecidos, e meu trabalho pode ser entusiasmante e emocionante, mas também é árduo. Para a maioria desses artistas eu estive em estúdio ou em programas de TV. Às vezes estava em bandas que estavam fazendo backing vocals para vários artistas em programas de variedades. Foi assim que conheci e trabalhei com muitos nomes famosos ao longo dos anos. Eu diria que o melhor grupo com a qual já trabalhei foi Glen Gregory e Martyn Ware, do Heaven 17. Martyn Ware realmente produziu grandes artistas, como a Tina Turner, no álbum Private Dancer. Eles foram definitivamente os mais divertidos, que me deixaram realizar o meu trabalho em alguns dos grandes palcos e estádios em todo o Reino Unido. Eles me encorajavam ativamente. Fui backing vocal deles durante nove anos. Eu adoro esses caras, mas tive que seguir adiante e continuar me concentrando em meus próprios projetos. Mas em meados dos anos 1990, voltei ao estúdio para um artista novinho em folha de Leicester, que estava lançando sua carreira com um fantástico som R&B. Era Mark Morrison. Participei como cantora convidada em “Return Of The Mac“, que teve um número elevado de reproduções (streams), e foi também um grande honra para mim.

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Artista diz que a internet a aproximou dos fãs da faixa: “não fazia ideia de como a música fez sucesso na América do Sul”. (Divulgação).


Assistindo as suas apresentações ao vivo, sua voz não mudou ao longo desses 30 anos…
Sou uma cantora classicamente treinada, mesmo sendo uma cantora “soul”. A técnica de respiração que faço é a mesma que um cantor de ópera. Basicamente respirando a partir do diafragma, e eu tento não empurrar da garganta, e me concentro em tentar reverberar musicalmente o uso de todo o meu corpo. Fui ensinada a fazer esta técnica pela minha professora de canto chamada Annette Battam, eu tinha cerca de 15 anos e ela estava na casa dos 30. Agora tenho 59 anos e ela está na casa dos 80. E o modo como ela me ensinou a cantar não tem preço. Que prazer e privilégio, trabalhar com uma professora que sabe tanto sobre a voz humana. Se não fosse por ela, eu não conseguiria cantar do jeito que ainda faço hoje. O som que faço é mais comumente associado aos cantores americanos, que naturalmente aprendem isso na igreja. Portanto, ter sido ensinada nesse estilo foi obviamente uma vantagem para mim, especialmente porque minhas cordas vocais estão em grande forma para a minha idade, porque ainda posso cantar nota por nota de “I am Gonna Get You“, mais de 30 anos depois. 

Você mencionou a cantora Jocelyn Brown algumas vezes, vocês são parentes?
Infelizmente não, nós não somos parentes. Acredito que ela nasceu na América e eu sou uma londrina. Mas, nos conhecemos nesse circuito de house music nos anos 1990. Eu a amo e a respeito muito. Ela é a verdadeira lenda da House Music.

Você acha que a internet tem um papel importante nesse resgate de hits do passado? O vídeoclipe deI am Gonna Get Youpossui mais de cinco milhões de visualizações, de certa forma uma geração nascida pós-anos 90 teve a chance de conhecer a música.

A internet é um fenômeno incrível e uma ferramenta extremamente útil. É um referência de biblioteca na ponta dos dedos. Logo, alguém que gostava de house music nos anos 1990, agora pode mostrá-la ao filho ou ao irmão mais novo. Portanto, você está ensinando e compartilhando com uma pessoa mais jovem como apreciar uma clássica house music, e como ela consegue abranger gerações. E como a verdadeira house music é atemporal, isso realmente pode unir mais as pessoas. “I am Gonna Get You”  já teve mais de 6 milhões de visualizações no YouTube. E se não fosse pela internet acredito que já teria sido esquecida a esta altura, ou pelo menos seria mais difícil de lembrar. Definitivamente, a internet ajudou a manter minha memória e minhas apresentações ativas, especialmente para pessoas como eu, que são vocalistas freelancers.

Quais seus próximos projetos?
Todos estamos nos concentrando para lançar “I’m Gonna Get You” 2023 nos quatro cantos do mundo. Também tenho outras faixas inéditas que serão lançadas após “I’m Gonna Get You” 2023, portanto é uma nova era para mim. Estamos todos trabalhando arduamente para emplacar esta nova versão para um clássico da pista de dança dos anos 1990. Demos a canção um novo impulso, um novo fôlego; não que ela precisasse, mas achamos interessante acrescentar alguns novos elementos para torná-la mais atual. Quero muito ir ao Brasil, e poder fazer shows aí.