No centro de uma recente polêmica envolvendo a certificação de obras de arte no Brasil está a pintura Paisagem 1925, de Tarsila do Amaral, uma das mais importantes artistas modernistas do país. A obra foi recentemente certificada pela Tarsila S/A, empresa responsável pela autenticação das criações da artista. No entanto, essa certificação gerou discordância por parte dos herdeiros de Tarsila, que questionam a legitimidade do processo.
Os herdeiros, que preservam o legado da pintora desde seu falecimento em 1973, expressaram suas preocupações por meio de uma carta aberta divulgada no último dia 21 de agosto. Na carta, eles afirmam que mais de 50% dos sucessores de Tarsila foram surpreendidos por uma matéria veiculada no Jornal Nacional, que anunciava a certificação da obra Paisagem 1925 como autêntica.
“Diante da gravidade de tal situação e do risco à credibilidade das obras de Tarsila do Amaral, seus herdeiros e sucessores, que esta subscrevem, manifestam seu completo e total repúdio às afirmações lançadas por pessoas que não estão autorizadas pela maioria da família para alterar e certificar a autenticidade de obras da renomada artista plástica”, declararam.
A carta dos herdeiros destaca ainda que a referida obra não foi submetida ao colegiado responsável pelo Catálogo Raisonné das obras de Tarsila do Amaral, elaborado ao longo de quatro anos por um grupo de especialistas reconhecidos. “Essa tentativa irresponsável de divulgar uma obra de Tarsila, não indicada no Catálogo, põe em risco a credibilidade conquistada durante anos de árduo trabalho, podendo sujeitar pessoas de boa-fé a adquirirem obras não autênticas”, alertam.
Em resposta, a Tarsila S/A emitiu, no dia 22 de agosto, uma nota pública defendendo a certificação de Paisagem 1925. A empresa esclareceu que o processo de certificação seguiu critérios técnicos rigorosos e que a autenticidade da obra foi atestada pelo perito Douglas Quintale, em colaboração com especialistas da Universidade de São Paulo e do Instituto Federal do Rio de Janeiro.
“A certificação de autenticidade da obra Paisagem 1925, em nenhum momento, comprometeu o legado da artista. Pelo contrário, ampliou e enriqueceu sua coleção com a inclusão de mais um quadro, com reflexos importantes para o patrimônio cultural brasileiro”, afirmou a Tarsila S/A.
A empresa também rebateu as críticas dos herdeiros sobre a dissolução do Colegiado do Catálogo Raisonné. “A proposta atual envolve um projeto de modernização do legado de Tarsila do Amaral, que expresse de forma mais ampla e democrática seu gênio artístico”, declarou a Tarsila S/A.
No momento, a obra Paisagem 1925 continua a ser objeto de debates e avaliações no mercado de arte. Não há, até o momento, uma resolução definitiva para o impasse entre a família de Tarsila do Amaral e a Tarsila S/A, mas o caso certamente trará reflexões importantes para o futuro das certificações de obras de arte no Brasil.