Já está em todas as plataformas digitais Planeta Fome (Deck), novo álbum de Elza Soares. O disco é claramente inspirado pela situação atual do País e fala diretamente a diversas questões brasileiras urgentes, como racismo, luta por direitos, tudo o que faria sentido nos dias de hoje.
São 12 faixas, entre inéditas e regravações, incluindo uma composição própria, a primeira vez que grava uma música sua (“Menino”). O disco foi gravado no Estúdio Tambor (Rio de Janeiro), com produção de Rafael Ramos e participações de BaianaSystem, Orkestra Rumpilezz, Virginia Rodrigues, BNegão, Pedro Loureiro e Rafael Mike.
A capa é assinada pela cartunista Laerte Coutinho. Veja o texto de apresentação escrito por Lázaro Ramos.
“Planeta Fome”
por Lázaro Ramos
Pra falar sobre qualquer coisa relacionada a Elza é preciso ser superlativo. Porque Elza é superlativa. Dito isso, qualquer elogio a ela é pouco para o tanto que ela trouxe, traz e trará para a música e cultura brasileira. A cada trabalho Elza joga luz em assuntos da nossa atualidade e, assim, ferve a sociedade por meio de sua voz potente e de suas escolhas que sempre surpreendem.
E não é diferente nesse trabalho. A primeira pergunta que me fiz foi: ‘por que Planeta Fome?’ se sua própria experiência com a fome é uma história não somente contada por ela, mas a representação preferida de seus biógrafos ao lembrar de sua primeira aparição e posicionamento diante do público? Por que voltar, agora, a este momento como título do disco?
Com isto em mente comecei a escutar suas novas músicas. E já na primeira recebi uma pista: a sua fome de reinvenção e manter-se relevante continua e ela segue cantando todas as suas indignações e fazendo com que sua música seja um eterno grito em que sua voz rouca vai encantando e dizendo ao Brasil: “Tome mais, eu tenho sempre mais pra te dar”.
Depois de Deus é Mulher, a grande questão seria se Elza conseguiria um sucessor de impacto tão grande. Bem, esse tem e e ele tira o fôlego da gente. Ao escolher cantar o hoje e as indignações de hoje, ela conseguiu de novo.
Elza subverte a lógica de que existe um caminho seguro para o artista, dialoga com a música de hoje e, ao mesmo tempo, mantém toda a potência de sua história – cada participação é uma escolha consciente sobre com quem ela quer seguir de mãos dadas: tem Virgínia Rodrigues, Russo Passapusso e seus versos desconcertantes, a composição e voz de Rafael Mike em uma música que revisita a obra de Elza e traz um novo sentido para a dita “carne mais barata”. E ainda tem B Negão, orquestra Rumpilez e Pedro Loureiro mostrando que Elza sabe muito bem o que faz.
Entre agogôs e guitarras, Elza vai cantando tudo o que deseja e tudo o que tem fome. Fome de amor, de justiça, de força. E assim ela faz mais uma obra-prima sobre a atualidade – o que tem sido sua grande meta – objetivo conquistado com maestria.
E dessa forma o álbum segue deixando a gente surpreso a cada faixa que, em conjunto, completa uma viagem sobre o Brasil de agora ou talvez de ontem e que ela canta para que tenhamos um outro amanhã… Um disco pra ser escutado muitas vezes. Só faltou dizer algo que é evidente: corajosa e inspiradora. Não disse que era impossível não ser superlativo?