Editorial: Não podemos calar

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Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Agora chegamos em um ponto em que ninguém mais pode ignorar as manifestações que acontecem nas ruas. Cientistas políticos, jornalistas e pitaqueiros de plantão já tentam buscar explicações para o que está acontecendo. Mas é algo histórico que só o discernimento do tempo nos ajudará a entender. O que sabemos agora: ESTAMOS PUTOS.

A direita conservadora assustada emite gritos histéricos, os políticos oportunistas já se bandeiam em favor dos manifestantes, e os que estão no poder ou falam coisas estúpidas ou se calam. Há ainda os que já tentam organizar tudo: vamos protestar, mas se possível da calçada, com trajeto previamente acordado, sem melindrar as visitas. Os jovens estão na rua por uma insatisfação com o que está aí posto há décadas. O que começou como uma luta por diminuição de passagens de ônibus se generalizou contra mais questões e a maioria delas tem a ver com injustiça, abismo social, e outras tantas mazelas que todos nós conhecemos. Governos entraram e saíram e tudo continuou a mesma merda. É esse o espírito.

Por isso, as razões dessas manifestações não têm origens em um anticapitalismo inspirado pelos movimentos Occupy pelo mundo (ou talvez tenha, mas não só). O que vemos aqui é também uma desilusão política, um grito anti-Governo, uma vaia estrondosa gerada pelo descaso por causas sociais antes tão defendidas pela esquerda. Se as mudanças virão pela via política ou não, ainda é complicado saber. O que não podemos arrefecer é a indignação.

Os acontecimentos desses dias também tem revelado a força das novas formas de mobilização (sobretudo por meio das redes sociais, mas não apenas por ela) e desmascarado a mídia tradicional com suas estreitíssimas relações com o poder político e econômico. A manipulação dos fatos, a opinião descaradamente tendenciosa dos jornais, revistas e emissoras de TV desfazem todos os preceitos do bom jornalismo, que promulga a imparcialidade e a isenção como normas de conduta ética.

Os métodos brutais que estamos vendo em diversas cidades apenas revelam a incapacidade de quem está no comando de estar verdadeiramente próximo daqueles que os elegeram. E ainda que seja uma parcela pequena dos manifestantes que realizam depredações, esse pessoal não pode ser visto como párias, uma parte não pensada da equação. Não são com bombas de gás, tiro e pancada que se resolvem crises e conflitos. A crueldade agora é online: vimos policiais usando spray de pimenta, atropelando estudantes e acertando pessoas com balas de borracha (que são de borracha, mas arrancam o couro). O mais importante é pensar que nenhum patrimônio (histórico ou não) está acima da integridade física de qualquer pessoa, seja qual forem seus motivos.

E enquanto essa postura autoritária e conservadora persistir, nós que fazemos a Revista O Grito! seguiremos nas ruas pedindo mudanças. Como todo mundo.

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