Dua Lipa
Radical Optimism
Warner Music UK, 2024. Gênero: Pop
Em todas as suas falas sobre o Radical Optimism, Dua Lipa construiu suspense e excitação para a chegada do projeto; primeiro com as referências citadas por ela: Massive Atack e Primal Scream – grandes nomes da música eletrônica alternativa – e depois anunciando a colaboração dos talentosos Danny Harle (PC Music) e Kevin Parker (Tame Impala) na produção do disco. Passado o luxo das pistas de dança no Future Nostalgia (2020), Lipa deu a entender que esse seria um disco sofisticado, criativo, alinhado com sons mais alternativos – como foi em seu início de carreira. Infelizmente, o Radical Optimism recusa todas essas características e se apresenta como o projeto menos original da popstar anglo-albanesa até agora.
Radical Optimism falha, principalmente, por deixar de explorar a criatividade de Harle e Parker enquanto produtores; dois artistas que tem álbuns como o Desire, I Want To Turn Into You (2023), de Caroline Polachek e Currents (2017), do Tame Impala em seus currículos, ou seja, reconhecidos pelas músicas complexas e multifacetadas.
A cantora limita o seu disco a uma lógica comercial de canções repetitivas e previsíveis, além do pouquíssimo espaço para os talentos de seus produtores. Não há canções mal produzidas, mas falta molho – outros e pontes interessantes, uma pegada maior na psicodelia -, elementos mais marcantes. Essa ausência faz com que nos questionemos aonde foram parar as influências citadas por ela.
Apesar de cantar sobre relacionamentos e paixões – temas notórios de suas composições – as letras são um tanto simplórias, sem as nuances afetivas espertas que aparecem em seus outros discos. A questão das letras é um problema que fica ainda pior se considerarmos que é neste trabalho que Dua Lipa mais se destaca como intérprete. Seus vocais são poderosos, cristalinos, mas nem isso faz com que a lírica melhore.
Entre os poucos acertos da tracklist, os singles “Houdini” e “Training Season” mantém a consistência, e “French Exit” aparece como uma surpresa necessária e composição envolvente. “Anythig For Love” também poderia ser um acerto se não fosse tão curta. “Watcha Doing” lembra bastante “Dance The Night Away”, da trilha sonora de Barbie (2023), mas com ajustes mínimos para parecer coesa dentro do disco. “These Walls” é, talvez, o melhor exemplo dos problemas de repetição e previsibilidade do disco.
Radical Optimism soava como outro acerto da carreira de Dua Lipa, um retorno ao sons alternativos de seu início de carreira, mas frustra pela ausência de ousadia, algo que parecia não faltar na cantora até então.
Ouça Radical Optimism, de Dua Lipa
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