A cabeça do músico sergipano radicado em Pernambuco Dj Dolores sempre esteve aberta às diversas possibilidades sonoras. Como um dos nomes mais importantes da geração manguebeat do Recife, ele foi um dos responsáveis por incentivar essa simbiose de estilos no movimento, o que deu o ar contemporâneo e urbano do mangue.
Através de seus vários projetos (Aparelhagem, Santa Massa, entre outros), ele deixou bem claro que a música popular e tradicional é viva e pop, distante do olhar condescendente que muita gente ainda insiste em lançar.
Seu novo disco, Recife• 19, revitaliza muito do que Dolores acredita e propaga nesses mais de 30 anos de carreira. E faz isso adicionando um comentário bem atual sobre questões do país e do Recife especificamente.
O disco chega sem se apegar a nenhum estilo específico, ainda que a eletrônica (ou pelo menos sua visão particular do gênero), tenha bastante destaque. As canções trazem um debate sobre o país atual através de um diálogo constante entre passado e futuro.
Essa reflexão aparece em “A Casta”, sobre essas estruturas rígidas da sociedade brasileira ou “Exú Ciborgue”, que trata de afrofuturismo.
Entre as participações especiais estão Ylana Queiroga, Erica Natuza, Jards Macalé (na ótima “Mudanças”), Jr Black e o rapper Edgar, além de sua colaboradora de longa data Isaar. Essas participações dizem muito da proposta sonora do disco, que se mostra bastante abrangente nas suas influências, indo do brega-funk ao maracatu, passando pela ciranda. Mas o que se destaca mesmo é a presença forte dos ritmos africanos, como o kuduro e afropop e a influência de Fela Kuti.
Recife • 19 é um lançamento do selo inglês Sterns Music e chega em todas as plataformas digitais. Após um período dedicado a projetos de trilhas sonoras e colaborações, é bem interessante e necessário ouvir novamente a voz autoral das batidas de DJ Dolores.
DJ DOLORES
Recife ° 19
[Sterns Music, 2019]