Divas em Xeque | Quase deusas

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QUASE DEUSAS
Gays e drags possuem um verdadeiro fascínio, quase místico, em mimetizar as cantoras do pop contemporâneo

Por Marta Souza
Da Revista O Grito!

“O jogo da travesti é o jogo da conquista, por isso, ela constrói seu personagem pensando sempre no outro. Nesse sentido, o conceito de corpo construído se aplica plenamente ao corpo da travesti, no qual uma das mais importantes dimensões de sua vivência é a dimensão pública. O seu corpo é construído com a finalidade de tornar-se um espetáculo, com a finalidade de atrair o olhar do outro”. O trecho, transcrito do livro Damas de paus: o jogo aberto dos travestis no espelho da mulher, da pesquisadora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, Neuza Maria de Oliveira, interpreta com exatidão o que se passa com a maioria dos gays e travestis que imitam as cantoras pop.
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Fãs em conflito

As divas são veneradas nesse segmento, sobretudo entre os frequentadores de boates. Everton O. Luna é um exemplo desse fenômeno. O bailarino e coreógrafo, que dá aulas na academia de dança Nelma Guerra, vive a personagem Beyoncé Luna desde que começou a atuar como cover da Beyoncé Knowles, em meados deste ano, por se identificar com a artista negra. “Como gay, acho que o modo diva de ser, vestir, falar e dançar é o que chama mais atenção. Nós gostamos e admiramos isso nas mulheres, e admiramos mais quando ela é uma super star como a Bey. Eu me sinto muito bem quando estou no palco dublando ela”, afirma.

Com um colan preto, meia-calça, peruca, salto e muita maquiagem, Everton se transforma em Beyoncé dançando impecavelmente a coreografia de Single Ladies, um dos hits da diva, ao lado de dois bailarinos da sua equipe. “Além da malhação, que ajuda na preparação para enfrentar a rotina de ensaios e shows, me preocupo bastante com os figurinos. Eles têm que chegar o mais próximos dos originais possível”, observa.

Beyonce 41

O jornalista e divulgador da Metrópole, Diogo Carvalho, aponta que a renda de público aumenta nas noites dedicadas às divas. “O grande segredo das divas gays é que elas têm música com coreografia e o público GLS adora isso”, diz. O publicitário Bruno Almeida é um dos que frequentam a boate para ver os shows das covers. “Parece que realmente estou em um show da Beyoncé. Adoro vir nos dias dedicados a essas cantoras, porque tocam as músicas que mais gosto de ouvir e dançar”, comenta.

Alex Bloon, um dos DJs da casa noturna, afirma que as músicas dessas cantoras estão sempre no seu set list, porque são garantia de sucesso numa balada gay. “Sempre que posso, coloco as músicas mais conhecidas em nova roupagem, como Toxic e Paparrazi, de Britney e Lady Gaga, juntas em um mashup incrível, que deixa todos de queixo caído. Isso torna o clima mais frenético entre os clientes da boate”, indica.