2008 DE OLHO EM 2010
O pleito deste ano reforça a tese de que o PT, até agora, não possui um nome forte para a disputa presidencial. No plano partidário, a política nacional virou uma festa no maior estilo “tá tudo liberado”
Por Renan Holanda, especial para O Grito!
O pleito realizado no último dia 5 de outubro trouxe novidades interessantes para uma análise mais acurada do novo cenário político que se desenvolve no país. Para muitos – ou melhor, para todos – os resultados dessas eleições influenciarão, diretamente, a disputa presidencial em 2010. A bem da verdade, os próximos dois anos serão uma verdadeira incógnita. Um par de motivos consegue explicar bem esse cenário: 1. Lula não pode se reeleger e o PT, bem como toda a base aliada, não tem um sucessor natural; 2. do outro lado, a oposição segue insistindo nos mesmos quadros (Serra), perdendo a oportunidade de lançar uma candidatura mais ousada (Aécio).
Marta Suplicy (PT) x Geraldo Kassab (DEM)
A ministra Dilma Roussef (Casa Civil), postulante defendida pelo presidente operário, não parece ser a pessoa ideal para ocupar o cargo maior no executivo. Ela funciona bem assim, como cão de guarda (que o diga o senador Agripino), por que mudar? Em São Paulo, a provável derrota de Marta Suplicy será mais um revés para o PT. A ex-ministra poderia ser uma opção, mas seu fracasso no primeiro turno foi muito mais político que eleitoral (isso para não falar no picolé de chuchu, Geraldo Alckmin). No segundo turno, as primeiras pesquisas já apontam a vitória do atual prefeito Gilberto Kassab (DEM). E agora? Ao que tudo indica, em 2010, o PT terá de se contentar em indicar o vice.
Fernando Gabeira (PV) x Eduardo Paes (PMDB)
No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, a disputa também anda muito interessante. Lá, o deputado federal, Fernando Gabeira (PV), desbancou o bispo Crivella (PRB) e se mandou para a decisão com o candidato da base, Eduardo Paes (PMDB). A bem da verdade, o partido do ex-revolucionário, autor de O Que É Isso, Companheiro?, também já compôs o leque de sustentação do governo Lula. Entretanto, na cidade maravilhosa as coisas funcionam diferente. O próprio Paes foi, nos tempos de PSDB, um ardoroso crítico da administração federal. Na época do mensalão, ele chegou a acusar o sapo barbudo de ser o “chefe da quadrilha”. Agora, recebeu apoio do PT e até dos comunistas (PCdoB). Mesmo assim, negou-se a pedir desculpas ao presidente.
Já Gabeira, diga-se de passagem, é, provavelmente, o candidato mais “braços abertos” de todas as capitais brasileiras. Embora não integre, claramente, o grupo oposicionista da Câmara, ele é tão ácido quanto o mais feroz dos democratas (democrata, aqui, vale ressaltar, se refere a quem é filiado ao DEM). Exilado no regime militar, já ganhou o apoio da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (PT), e pretende costurar uma aliança com o PSOL – aquele mesmo da Heloísa Helena. Até aí, nada demais. No entanto, Gabeira tem, ao seu lado, a dupla mais conhecida da política tupiniquim: DEM e PSDB. No mínimo, curioso.
João Henrique (PMDB) x Walter Pinheiro (PT)
Pelas bandas do Nordeste, as eleições na Bahia também chamaram a atenção. O estado tem o quarto maior número de eleitores do país e Salvador é, de longe, a capital mais bem estruturada da região. O pleito desse ano foi um dos mais aguardados, pois, após a morte do cacique ACM e a vitória triunfante de Jacques Wagner em 2006, não se sabia, ao certo, qual o tamanho e a influência do carlismo na capital. O deputado federal, ACM Neto (DEM), principal herdeiro político do avô, ficou fora do segundo turno, mas, mesmo assim, mostrou que ainda tem força. Ele teve 26,68% dos votos, enquanto os dois primeiros ficaram empatados tecnicamente com 30% e uns quebrados. O embate no segundo turno (Walter Pinheiro, do PT x João Henrique, do PMDB) já começou bastante esquisito. O DEM ficou com Henrique e o PSDB foi para o PT. Vai entender.
Ao que se observa, o quadro partidário brasileiro mergulha, ano após ano, mais fundo na penumbra. O eleitor não consegue identificar quem é cachorro e quem é gato. Muitos se espantaram quando Aécio Neves apoiou, mesmo que extra-oficialmente, o socialista Márcio Lacerda, em Minas Gerais. Entre os aliados de Lacerda, está o PT, e aí reside o principal entrave para uma formalização oficial do apoio dos tucanos. Quanta besteira.
Nossa política virou uma festa. Daquelas mais liberais. É como a piada do garoto que pergunta porque nasceu japonês, se o pai é negro e a mãe é loura. “Meu filho, se você soubesse o que aconteceu naquele dia, estaria agradecendo por não ser um cachorro”, disse a progenitora. Então tá.