Crítica: Wado | Vazio Tropical

wado vazio tropical
Wado (o segundo da esquerda pra direita) com Cícero, Marcelo Camelo e Momo: esvaziado (Divulgação)
Wado (o segundo da esquerda pra direita) com Cícero, Marcelo Camelo e Momo: esvaziado (Divulgação)

ERRO BEM INTENCIONADO
Um dos melhores músicos de sua geração, Wado ficou refém da produção de Marcelo Camelo cheia de ideias datadas e seguras

Por Maurício Ângelo

Vazio Tropical é um erro. Um erro muito bem intencionado, cheio de gente (até) boa por trás, mas não nos deixemos enganar: Wado é muito mais do que isso aqui. Sempre foi. Wado é, talvez, o melhor compositor da sua geração, com a melhor discografia dessa tal MPB dos anos 2000 em diante.

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Vazio Tropical exprime aquilo que era de se imaginar: Wado foi contaminado inteiramente pelas ideias, pelas aspirações e pela atmosfera de Marcelo Camelo, que produziu o disco e assinou algumas faixas em conjunto. MoMo e Cícero também não ajudam muito. Pelo contrário. E é incrível como Camelo tem essa faculdade de contaminar tudo o que toca, de não conseguir deixar o outro artista respirar, de fazer com que a sua lábia invada totalmente a cabeça alheia.

O título, pra lá de auto-indulgente, revela essa “pretensão do tropicalismo pós-moderno existencialista”, ou, traduzindo: é aquele climinha chororô modorrento com pitadas de resmungos na beira da praia, amores perdidos, violõeszinhos, vidas defumadas e tempo de sobra.

“Zelo”, com Cícero, “Canto dos Insetos”, “Cidade Grande”, “Tão Feliz”, “Flores do Bem”… O disco inteiro é uma repetição de ideias processadas, testadas, gravadas e retorcidas a esmo, clichês decorados com aquela decadência febril, aquela preguiça com filtro, paisagens familiares e melodias fáceis, vocalizações “etéreas”. Fórmula que tem lá sua beleza, claro, tem lá seus momentos, mas é insuficiente ante o que Wado já fez.

Se é propositadamente datada – e, claro, sempre é – o é no momento errado, da maneira errada, apostando em clichês e elementos que poderiam gerar milhares de outras músicas iguais. Essa turma pode compor outro Vazio Tropical amanhã, inteiro, se quiser. Outro Sou, outro Canções de Apartamento, outro Cadafalso. A música é feita de fórmulas e repetições, de achar o seu nicho, o seu “estilo” e burilar ao máximo suas próprias características dentro do seu universo.

O problema é que Wado se perdeu completamente aqui. Pra mim, e pra muita gente, “isso aqui” não dá mais. Especialmente pra quem tem uma carreira tão interessante e tão plural quanto Wado. Vazio Tropical não é um desastre completo, mas alguém que se deixou levar por influências nefastas, num momento específico, numa aposta segura. Acontece. Não há de ser nada.

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Vazio Tropical
[Independente, 2013]

Nota: 4,5

* Maurício Ângelo é jornalista e edita a revista Movin’Up, onde este texto foi publicado originalmente.