Crítica TV: American Horror Story – Coven

AHS+S3E2+2
Kathy Bates ao lado de Jessica Lange: duelo de bitches (Divulgação)
Jessica Lange: amamos te odiar (Divulgação)
Jessica Lange: amamos te odiar (Divulgação)

AS BRUXAS DE SEMPRE
Duelo de megeras entre Jessica Lange e Kathy Bates não salva American Horror Story da mesmice

Uma das melhores coisas de American Horror Story: Coven, a nova temporada da série que reúne contos e lendas de terror populares no Ocidente, é o modo como se arrisca ao trafegar entre tantos clichês do gênero. Queremos acreditar que se trata de algo proposital, sobretudo as referências recentes, como o fato de existir uma espécie de escola de bruxas, no melhor estilo Harry Potter ou os X-Men. Desta vez, a história volta a se passar nos tempo atuais, mais precisamente em Nova Orleans e centra a atenção na bruxaria. Cada ator foi remanejado para novos papéis, como já é de praxe no seriado, mas algo permanece imutável: Jessica Lange, maior trunfo de AHS desde seu início, permanece perfeita como a maior megera da TV.

Jessica é Fiona Goode, uma bruxa poderosíssima e odiosa que resolve retornar à escola de bruxas dirigida por Cordelia (Sarah Paulson), que estaria conduzindo as coisas de uma maneira muito pacifista e condescendente. Nesse internato de meninas, cada um tem uma espécie de superpoder, como se fossem mutantes. Uma é telecinética, outra lê pensamentos, uma é uma espécie de vodu vivo e a mais interessante de todas mata quem fizer sexo com ela. Zoe e Fiona representam opostos em uma causa, igual a Charles Xavier e Magneto. Outro dejavu, ainda maior quando relacionado a bruxas do mal: Jessica Lange está obcecada em descobrir uma maneira de viver para sempre.

As bruxas saem para um passeio (Divulgação)
As bruxas saem para um passeio (Divulgação)

Para isso ela descobre uma antiga bruxa que conseguiu o feito, mas foi condenada a viver presa por 180 anos. Neste ponto, a narrativa retorna ao século 19 para apresentar outra personagem que compete com Jessica Lange como a maior bitch da TV americana: Madame LaLaurie, interpretada por Kathy Bates. No passado, LaLaurie cometia atrocidades com seus escravos em um porão. Apaixonada apenas por suas filhas, desprezava o marido e tentava a todo custo prolongar sua existência. Até que enfim descobriu a vida eterna – não vamos contar spoilers, mas basta dizer que essa imortalidade leva a história até os dias atuais em Nova Orleans com Fiona na caça do mesmo feito.

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Criada por Ryan Murphy (Estética e Glee), a série conseguiu criar um estilo próprio em apenas três temporadas. A cada ano, alguns atores retornam com outros personagens e a trama nos leva a uma outra época e cenário. Em 2011 a estreia trouxe o terror psicológico proporcionado por uma casa assombrada. No segundo, um sanatório misturava histórias de demônios, médico louco e um serial killer. Essa proposta deixa os roteiristas mais livres para um avanço nos temas e narrativas sem a preocupação com pontas soltas ou cronologia. As duas primeiras temporadas trouxeram o impacto de uma história que buscava referências na cultura pop dos contos de terror, mas traziam um frescor moderno, permeado com muito sexo e algum gore.

Nesta terceira, a direção se mostra perdida, patinando na tentativa de dar um toque original em situações já tão exploradas em outros filmes e seriados. Se por um lado curtimos cada minuto em tela de Jessica Lange e Kathy Bates, por outros somos massacrados em uma trama arrastada mostrando as bruxinhas adolescentes Zoe (Taissa Farmiga) e Madison (Emma Roberts) em um necrotério tentando construir um frankestein. Ou então nos diversos momentos em que a telecinese é usada como forma de castigo ou no exagero de citações às bruxas de Salem. Com exceção de Queenie (Gabourey Sidibe), o núcleo teen da série não fez honra ao passado criativo de AHS, que sempre forçou os limites da TV com uma estética e narrativa acima da média.

Kathy Bates ao lado de Jessica Lange: duelo de bitches (Divulgação)
Kathy Bates ao lado de Jessica Lange: duelo de bitches (Divulgação)

Os três primeiros episódios da estreia revelam um descarrilho da proposta original e tira a série da vanguarda ao sucumbir a tantas opções fáceis já exploradas pelo gênero. Por outro lado, se os criadores Brad Falchuk e Ryan Murphy conseguirem explorar a essência pensada para a série, a temporada ainda pode ter uma chance. Basta pensar o seguinte: American Horror Story não é apenas um programa de terror. Mas sim um seriado que busca explorar nosso imaginário desses seres macabros com questões de nosso tempo. Tudo misturado a uma história de suspense bem contada. Se isso não voltar a ser levado em consideração, nem todo o talento de Jessica Lange como megera será suficiente.

AMERICAN HORROR STORY: COVEN
De Ryan Murphy e Brad Falchuk
[FX, 2011/ Exibido no Brasil pelo canal FOX e FOX/NatGeo HD, terças às 22h30 e em diversas reprises]

Nota: 7,0