Till – A Busca por Justiça
Chinonye Chukwu
EUA, 2022, 2h10, 14 anos. Distribuição: Universal Pictures
Com Danielle Deadwyler, Jalyn Hall e Whoopi Goldberg
Em cartaz nos cinemas
Em agosto de 1955, o menino negro Emmett Louis Till, de 14 anos, foi passar férias na casa dos seus primos em Money, pequena cidade no estado do Mississipi. Em uma tarde, ele foi ao mercado Bryant comprar doces, mas lá foi acusado de fazer uma brincadeira com a atendente do estabelecimento, uma mulher branca chamada Carolyn Bryant. Por conta disso, dois homens brancos, Roy Bryant e J.W. Milam, apareceram na porta da casa dos seus familiares, onde, no meio da noite, o arrancaram da sua cama e o sequestraram. Após três dias, o corpo de Emmett foi encontrado no rio Tallahatchie com marcas cruéis de tortura.
O assassinato do garoto marcou para sempre a história estadunidense por escancarar as perversas consequências do ódio racista e acabou contribuindo para o fortalecimento do movimento pelos direitos civis dos negros, que, quase dez anos depois, conseguiu dar um fim às leis segregacionistas no sul dos Estados Unidos.
Mas, se Emmett é até hoje lembrado, foi porque sua mãe, uma mulher negra chamada Mamie Till, no ápice da dor do luto por ter perdido seu único filho de forma bárbara, tomou a atitude insuportavelmente corajosa e desesperada de velar o corpo do menino com o caixão aberto. “Deixe as pessoas verem o que eles fizeram com meu garoto”, foram as palavras de Mamie, que depois disso dedicou toda sua vida à luta pelos direitos civis.
Agora, essa trágica história ganha um importante retrato cinematográfico com o lançamento de Till – A Busca por Justiça, novo longa da diretora nigeriana-americana Chinonye Chukwu. Com foco na luta de Mamie, o resultado é um filme que não é apenas sobre Emmett, mas principalmente sobre esta mãe e sua excruciante busca por alguma justiça para honrar a memória do filho – e aqui cabe destacar o quanto Danielle Deadwyler incorpora com fervor as dores e as batalhas dela.
Desde o começo, a obra está comprometida com uma abordagem comovente e respeitosa dos acontecimentos. A recusa da diretora em retratar as cenas de tortura contra o menino é o mais forte exemplo de uma série de escolhas que reforçam a genuína preocupação em não transformar a violência contra pessoas negras em mero espetáculo e entretenimento sádico. E então, tudo o que vemos e ouvimos, em uma cena breve, é uma cabana ao longe e gritos distantes.
Algumas cenas depois, porém, o espectador é exposto ao corpo de Emmett completamente mutilado e seu rosto desfigurado. Uma cena muito difícil de encarar e que pode parecer contraditório falar em sensibilidade aqui, mas que, na verdade, é imperativa para contar esse capítulo da vida de Mamie Till. Sua história só é o que é por causa do peso lancinante da decisão de mostrar ao mundo o horror que fizeram com seu Bo, como chama carinhosamente o filho.
A partir disso, assistimos Mamie travar várias batalhas. Internas e externas. Enquanto tenta encontrar alguma força dentro de si para enfrentar a dor que lhe corrói, ela logo se vê obrigada a demonstrar firmeza e segurança frente a uma imprensa e a uma justiça brancas que a todo tempo tentam minar a credibilidade dos seus relatos enquanto mulher negra.
Till – A Busca por Justiça traz, portanto, um retrato poderoso e sensível sobre o triste episódio e suas repercussões. Mas, ao final da obra, fica a sensação de que algo falta. É que o roteiro persegue um caminho óbvio, que, para uma produção com tanto espaço de tela, pouco explora. Se por um lado o assassinato de Emmett marcou a vida de Mamie de forma irremediável, por outro sua luta foi além e caberia ser melhor contemplada.
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