FREIO NA POLÍTICA
Mais importante grupo de Hip Hop da atualidade retorna mais subjetivo e melancólico em novo disco
Por Paulo Floro
Editor da Revista O Grito!, no Recife
Depois de dois álbuns em que a banda se considerava “entricheirada”, protestando contra racismo nos EUA, políticos conservadores, numa atitude que beirava o paranóico, o grupo americano The Roots, finalmente relaxam no disco How I Got Over, lançado no final de junho. Com o fim da era Bush, eles enfim podem dar um suspiro de alívio. A explosiva mistura de Hip Hop e boas novidades da música pop, ainda continua a mesma.
Talvez este não seja o disco mais pop que o grupo já fez, mas o espírito que transparece ao ouvindo é de deleite, desprendimento por uma proposta, que, dessa vez, parece priorizar a pura diversão. Os temas aqui, incluem certa poesia, como falar de espiritualidade, perseverança. A música de maior destaque é pura subjetividade, “Right On”, com a samplers da cantora folk-indie Joanna Newsom.
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Anteriormente:» Disco anterior do grupo foi mais provocativo
Claro, referências políticas, sobretudo à era Obama, ainda podem ser percebidos em todo o tracklist, mas agora um interesse mais emotivo é o que mais conta. Ao buscar temas mais universais, o grupo apostou numa melancolia, o que deu muito certo. “Dear God 2.0” leva o Hip-Hop a uma nova experiência, com vocais da banda Monsters Of Folk, cantando em falsete. Mais jazz e mais soul (com pitadas de inspiração gospel), fez o grupo ganhar comparações com “What’s Goin On”, de Marvin Gaye ou até Curtis Mayfield.
Depois de se tornar uma das bandas mais relevantes dentro do que está sendo feito atualmente no Hip Hop mundial, seja politicamente ou musicalmente, o grupo aponta novos caminhos neste nono trabalho, em comparações com seus dois discos anteriores. Com isso o grupo segue como vanguarda do gênero, o principal referencial de qualidade no que rappers ainda podem fazer.
How I Got Over também mostra o interesse que o grupo tem de incorporar cada vez mais elementos do indie-rock, criando um estilo original, mas em compensação, se afastando de suas origens no rap. A militância por um Hip-Hop consciente, crítico politicamente, ainda continua, como podemos perceber nas letras e entrevistas, mas é inegável um desejo da banda em se isolar, partindo para um tipo de música onde não haverá mais distinção.
Essa estratégia se reflete comercialmente, com a boa vendagem que este trabalho está conseguindo. É um The Roots numa posição mais confortável, segura. Esperamos que o viço de continuar à frente de todos não esmoreça com essa fase de bonança.
THE ROOTS
How I Got Over
[Def Jam, 2010]
NOTA: 9,0