Crítica: Scarface, de Armitage Trail e Christian de Metter

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Versão HQ de Scarface consegue reproduzir carisma do personagem

Trazer uma obra de uma mídia para outra sempre é um desafio. E Scarface se deu bem na sua passagem de um famoso romance noir para um longa de sucesso dirigido por Howard Hawks em 1932 e por Brian de Palma, em 1983, que imortalizou o personagem-título na pele de Al Pacino. Agora, a obra cumpre mais uma vez consegue êxito ao se aventurar nos quadrinhos, nesta adaptação que a Globo Livros coloca nas livrarias.

Baseado no texto original do escritor Armitage Trail, o quadrinista francês Christian De Metter, vencedor de um prêmio do público no festival de Angoulême, conseguiu transportar o carisma do personagem para os quadrinhos. O livro seduz o leitor já pela sequência de abertura, que utiliza um velho recurso cinematográfico de acompanhar o trajeto de uma bala. Daí em diante, a HQ vai se basear em elementos simples, até conservadores de contar uma história em quadrinhos, mas que no final funcionam bastante bem.

É que Scarface tem uma preocupação maior em manter a atmosfera da obra original e trazer a mesma força que os personagens tiveram em outras mídias. Na trama, Tony Guarino é um gangster que domina parte do tráfico ilegal de bebidas nos anos 1930 nos EUA e decide partir para a guerra contra uma gangue rival. Treinado pelo governo americano e condecorado como exímio soldado, ele tornou-se conhecido como Scarface após ganhar uma cicatriz na bochecha na Primeira Guerra Mundial. Irascível, por vezes cruel, ele equilibra certa afeição por pessoas queridas com um desejo de poder que o faz esquecer sua própria comunidade e relacionamentos. É um protagonista cheio de nuances, contradições.

O personagem foi inspirado por Al Capone, o mais icônico dos gangsters americanos. No entanto, Armitage Trail, autor do livro, afirmou nunca ter se encontrado com ele. A história de Trail é curiosa: bizonho destino fez com que ele publicasse apenas um outro romance, O Décimo Terceiro Convidado. Depois de se mudar para Hollywood para escrever filmes, ele morreu aos 28 anos de idade, de um súbito ataque cardíaco em um teatro da Paramount. Com Scarface, ele não só definiu o gênero gângster como deu combustível para obras do cinema e da literatura noir.

A HQ aproveita toda a fama dos filmes e do livro e não traz nenhum avanço estético na arte. Mas, é sempre prazeroso encontrar Scarface. [Paulo Floro]

livro scar 1SCARFACE
Armitage Trail (texto original), Christian de Metter (adaptação e arte)
[Globo Livros, 110 págs, R$ 34,90 / 2012]
Tradução:

Nota: 6,9

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