Crítica: Safadas Verão

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Foto: Reprodução.
Foto: Reprodução.

HQ-coletânea Safadas Verão traz nata dos quadrinhos eróticos franceses

Os quadrinhos franceses souberam como ninguém dar uma nível artístico para a safadeza. E fizeram isso com elegância, o que gerou obras clássicas dos quadrinhos, como A História de O, de Alex Varenne. Ao lado da Itália, terra de Guido Crepax e Milo Manara, a França deu ao gênero um escopo de relevância, algo que é sentido hoje em obras como essa Safadas Verão, que a Nemo lança no Brasil. Trata-se de um primeiro volume de quatro edições que reúne histórias curtas de diversos nomes, novos e antigos, como Jean-Pierre Gibrat e Daniel Ceppi.

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Lançada originalmente pela editora Les Humanoïds Associés, o livro reúne 12 histórias nesse volume, que variam bastante na abordagem e no estilo da narrativa. Comecemos pela mais interessante de todas, “Sobre Alguns Verões”, de Denis Frémond. Na HQ, vemos a trajetória sexual de um homem que, aos 40 anos, relembra suas peripécias desde a perda da virgindade aos 17 até seu momento atual como um entediado marido com filhos. Frémond consegue cativar o leitor ao apresentar um homem bastante ordinário na origem e aparência, mas que tem no sexo algo intrínseco à sua vida. Vivemos em flashbacks suas transas na Muralha da China, em povoados desconhecidos e até no momento do pouso de um OVNI. Além disso, faz de cada quadro uma história em si, com profundidade e força.

Frémond é o criador do personagem Joe Engo, bastante conhecido na França. É uma pena que suas HQs sejam inéditas no Brasil (desde o início dos anos 1990, se dedica quase inteiramente à pintura).

A educação sexual: Safadas é ótimo guia para conhecer autores franceses (Foto: Divulgação/Nemo).
A educação sexual: Safadas é ótimo guia para conhecer autores franceses (Foto: Divulgação/Nemo).

Outro destaque é “Os Sirênios”, de Thierry Smolderen e Philippe Marcelé, cuja história acabou servindo de inspiração para a capa do álbum. A HQ é uma intrincada trama de sexo em alto-mar estrelada por seres misteriosos conhecidos como sirênios, que raptam uma famosa atriz de cinema. Desenhada em preto e branco se comunica diretamente com a tradição das HQs eróticas europeias, cheias de roteiros rocambolescos. Marcelé, o desenhista, é mais um ilustre desconhecido por aqui, autor de dezenas de álbuns desde os anos 1970. Vale a pena procurar pela série Gothic, ao lado do escritor Rodolphe.

Outra característica bem marcante das HQs europeias francesas também bate ponto em Safadas Verão: os roteiros expressos e absurdamente simples, que em geral dão vazão a um fetiche ou aspecto específico do sexo. Dito isto, temos Alex Varenne, mestre do erotismo em quadrinhos, com uma história bem divertida que tem como mote o tesão de espiar alguém mijando no mato. Já Max Cabanes em “Titio assusta as moças” mostra o ponto de vista de um garoto que testemunha o tio casado abusar de uma garota, que consegue escapar.

Sempre com o mote do verão, a coletânea ainda traz o erotismo nonsense de Philippe Caza, com a história de uma mulher que transa com um homem-lagosta bem dotado (!). Todas as histórias instigam a conhecer mais dos autores, a maioria pouco conhecidos e publicados no Brasil. E isso leva a uma das maiores falhas da edição nacional, que não incluiu uma única linha sobre os autores, nem sobre a série. Seria de muita utilidade. A Nemo ainda planeja outros três volumes, com os temas “Encontros”, “Lingerie” e “Natal”.

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Alex Varenne, Annie Goetzinger, Daniel Ceppi, Daniel Redondo, Denis Frémond, Florenci Clavé, Guy Vidal, Harriet, Igort, Jean-Pierre Gibrat, Louis Retif, Max Cabanes, Michel Blanc-Dumont, Philippe Caza, Philippe Marcelé, Thierry Smolderen (texto e arte)
[Nemo, 74 págs, R$ 39 / 2014]
Tradução: Fernando Scheibe

Nota: 8,0