Compositor abandona urbanidade paulista para criar trabalho inspirado na Bahia
Por Juliana Simon
Desde o primeiro CD – São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe – Rodrigo Campos já se mostrava um ótimo cronista, de afinada voz entre uma turma prolífica da MPB. Até então, o cantor era um homem de samba, banhado pela urbanidade da periferia de São Paulo. Em Bahia Fantástica, seu novo trabalho, no entanto, o cantor transfere sua poesia dos campos de terra batida para a terra de todos os santos.
“Cinco Doces” abre as portas numa apoteose. A voz doce de Rodrigo entra num choque espetacular com um sax em alto e bom som.
As crônicas continuam sendo um ponto alto nas composições de Rodrigo. “Princesa do Mar” combina Iemanjá e maré com a “maluca” Andreza. Em “Ribeirão”, Criolo – um dos muitos parceiros de Rodrigo neste segundo trabalho – canta um romance de escravos. Ainda surgem Beto, Alexandre, Ana. Histórias de vida, de morte e de fé (“Sete Velas”).
No meio do caminho, batucadas e a linda voz da esposa de Rodrigo, a cantora Luisa Maita, fazem de “Morte na Bahia” uma introdução à segunda metade do CD. Muitas canções são feitas de poucos versos que, a cada repetição, crescem com arranjos instrumentais diferentes e surpreendentes. Ao longo de “Aninha”, feita de quatro versos, se alternam flauta e guitarra, ora tímidas, ora caóticas.
A síntese de toda a beleza do CD é “Jardim Japão”. História de crime, versos de impacto “Moleque vacilão/ Não sabe nem matar/ Tem que chorar?”, a força da voz de Juçara Marçal, guitarra estridente de Guilherme Held, mais batuques. “General Geral” e “Elias”, que lembram muito a sonoridade do primeiro álbum, são as que menos agradam.
“Capitão”, com um quê Caymmi (que aparece aqui e ali por todo o trabalho) e “Sou de Salvador” dão o tom de despedida de um trabalho incrível. O cantor, para quem não sabe, é um homem miúdo, tímido, de gestos contidos e olhar calmo. No som da fantástica Bahia, no entanto, Rodrigo ficou gigante.
RODRIGO CAMPOS
Fantástica Bahia
[Independente, 2012]
Nota: 8,6
“General”