A proposta da revista Pé-de-Cabra é se mostrar como uma arte afiada em tempos de forte conservadorismo no Brasil. São 53 artistas neste primeiro número, entre eles Fabiane Langona, Rafa Campos Rocha, Diego Esteves, Diego Gerlach, Victor Bello e Kellen Carvalho. Há também participação de autores estrangeiros, como Half Bob (França), Grace Wilson (Escócia) e Morris Vogel (Suíça). A edição é de Panhoca, que fez uma excelente curadoria e edição, sobretudo para um primeiro trabalho.
Os artistas chegaram através de convocatória e, apesar dos diversos estilos diferentes, compartilham o mesmo desejo de confrontar qualquer forma de poder. Essa proposta de seguir uma narrativa anti-hegemônica aproxima a revista de outras experiências no mercado editorial, como a Animal, Circo, Udigrudi e a Prego.
A Pé-de-Cabra, no entanto, não é panfletária nem partidária. Sua revolta contra o poder é quase primordial, como um tom de desacato perene. Os alvos vão desde o fanatismo religioso, a mídia televisiva, o autoritarismo em geral e o próprio mercado de quadrinhos.
O espírito anti-autoritário contrasta com a capa e o formato da edição, que tem lombada quadrada e uma arte até comedida do francês Pochep. A expectativa se quebra ao nos depararmos com os trabalhos no miolo, alguns experimentais (Mario de Alencar), outros mais punks (Campos Rocha, Panhoca, Victor Bello) e uns de estética bem escatológica, como Russel Tayson e Bruno Marafigo.
Grace Wilson, que merece ser mais publicada por aqui, Caio Gomez, Theo Szczepansk e Pedro D’Apremont, foram os melhores trabalhos desse volume 1. Panhoca conseguiu manter o nível bem regular na qualidade dos trabalhos, o que é bem incomum em se tratando de coletâneas. Dado o contexto cada vez mais assustador nesse Brasil reacionário, publicações como a Pé-de-Cabra são um revide bem vindo.
PÉ DE CABRA 1
Vários Autores
[Independente, 100 páginas, R$ 25 / 2018]
8.5
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