GOSMENTO E EXISTENCIALISTA
Ridley Scott retorna ao universo de Alien em uma trama sobre a origem da humanidade
Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!
Prometheus chegou aos cinemas cercado de expectativa por se tratar de um prequel de Alien, uma das maiores trilogias de ficção-científica de todos os tempos, mas o que poucos sabiam é que o diretor Ridley Scott teria pretensões bem maiores nesta nova aventura espacial. Ele está interessado em criar uma complexa trama sobre a origem dos seres humanos misturando religiosidade, ciência e mitologia. Estrelado por Noomi Rapace, famosa pela versão sueca de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, o longa é de encher os olhos em um 3D utilizado com maestria por Scott.
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É difícil contar muito sobre o filme sem soltar spoilers, mas é possível dizer o seguinte: no futuro, um casal de cientistas viaja no tempo para tentar comprovar que a vida humana na Terra não foi fruto da evolução das espécies e sim, concebida através da intervenção alienígena. Eles tentam descobrir quem foram os misteriosos “engenheiros”, humanoides antiguíssimos que seriam os criadores dos seres humanos.
Baseado em inscrições rupestres que se repetiram em diversas culturas em diferentes pontos da Terra, a Drª Elizabeth Shaw (Rapace) parte para um distante planeta a fim de elucidar a origem da vida. Ela parte com seu marido, o também cientista Holloway (Logan Marshall-Green) em uma nave comandada pela megera Vickers (Charlize Theron, na sua interpretação padrão de vilã). Eles serão acompanhados do andróide David (Michael Fassbender, o maior destaque em tela). Chegando lá, eles encontram um lugar inóspito, repleto de perigos (claro!). A concepção visual do filme confirma que Scott ainda tem muito tino para a ficção-científica, gênero que ajudou a popularizar. 30 anos depois de Alien e Blade Runner, seu nome nos créditos é o grande chamariz de público para Prometheus.
No entanto, o roteiro confuso atrapalha o andamento do filme. Escrito por Jon Spaihts e Damon Linderlof (os mesmos de Lost), a trama é escorregadia e tem como principal intenção confundir o entendimento do espectador. Subverte os clássicos de Scott, que seguiam uma cartilha conservadora, mas envolvente, de criar suspense, surpreender e confortar quem via seus thrillers violentos no espaço ou no futuro cyberpunk. O roteiro tenta levantar questões para reflexão, como a religião. Afinal, porque a doutora Shaw é tão religiosa, carrega seu crucifixo para todo lugar, se ela é uma das defensoras do intervencionismo alienígena na Terra? Há ainda uma leitura política de leve, já que fala de armas de destruição em massa. Falta profundidade para que o longa se transformasse em uma sofisticada obra filosófica, como acreditam os seus produtores.
Além da trama meio abilolada confusa, ainda prejudica o filme seu pacote de clichês comprado no varejo: estão lá personagens da nave que já nos acostumamos em filmes sci-fi ou de terror: o fanfarrão, o idiota, o durão, o piadista. Charlize Theron até poderia se transformar em uma personagem memorável, mas a comandante durona e sem escrúpulos dá uma sensação de dejavu. O destaque fica com o robô David, interpretado por Michael Fassbender. Espécie de homenagem à 2001 – Uma Odisseia no Espaço, ele tem importância na trama e é o único que consegue demonstrar matizes em suas personalidades (ficamos em dúvida sobre sua índole o tempo inteiro).
Para quem nunca viu Alien, resta um filme muito bem produzido, com estética gore bem dosada, momentos de gosma e sangue usados sabiamente, e um clímax que deixa o espectador tenso. Já entre os nerds e fãs da série Alien deverão se decepcionar com um roteiro que não soube aproveitar as ricas referências trazidas pelos filmes originais. De bom, temos o retorno de Scott ao gênero sci-fi. Ele ainda irá revisitar um outro clássico: Blade Runner. Seguiremos com a expectativa em alta mais uma vez.
PROMETHEUS
Ridley Scott
[Prometheus, EUA, 2012]
Com Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron
Twentieth Century Fox
Nota: 7,4