Crítica: Pinóquio, de Winshluss

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HQ Pinóquio traz visão pessimista da humanidade
Livro do francês Winshluss é uma versão macabra do clássico infantil do boneco que ganha vida: aqui, o filho de Gepeto é máquina assassina

Por Paulo Floro

Os contos de fadas nunca foram tão macabros quanto na obra Pinóquio, do francês Winshluss. O livro, que chegou ao Brasil pela Globo Livros, faz uma releitura bem aberta da obra do italiano Carlo Collodi. Como no original, o personagem do título é criado pelo velho Gepeto e ganha vida. A diferença aqui é que o autor usa a história para falar sobre morte, militarismo e destruição.

Pinóquio como artefato criado pelo homem é usado em diversos propósitos, desde trabalhar em uma multinacional opressora até como arma de destruição. O álbum mostra um périplo do menino-máquina, não mais feito de madeira, mas sim de metal, pelos reinos (des)encantados que nos é bem familiar: o mundo real. No caminho, ele vai encontrando pessoas interesseiras que sempre encontram uma utilidade vil para que o garote atue.

Mimetizando as boas histórias infantis, Pinóquio é ingênuo, bobo. Suas atitudes são desprovidas de maldade, o que deixa ainda mais explícito o mundo cruel em que está inserido. O Grilo Falante desta vez é representado por uma barata, que vive dentro da cabeça do personagem, como um subconsciente. É apenas nesses momentos, que aparecem como interlúdio, que o livro traz texto.

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O resto da narrativa é contada apenas com imagens, muitas vezes em paineis de página inteira, como antigos livros de histórias infantis. Winshluss, codinome do francês Vincent Paronnaud, fez uma história adulta, experimental, mas que utiliza referências de contos de fada. Há sexo, escatologia, sangue e uma visão bem pessimista da humanidade. Por isso, o aviso de que todas as crianças fiquem longe.

O autor é nome celebrado no mercado franco-belga de quadrinhos. Ele é co-diretor, ao lado da iraniana Marjane Satrapi, dos longas Frango Com Ameixas e Persépolis. A obra venceu o prestigiado festival de Angoulême, em 2009.

A demora em chegar ao Brasil é compensada pelo primor na edição – capa dura, quase 200 páginas e tamanho gigante. É uma das mais instigantes obras do ano.

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Winshluss
[Globo Livros Graphics, 156 páginas, R$ 75]
Tradução:

Nota: 9,4

 

 

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