O Primeiro a Morrer no Final
Adam Silvera
Intrínseca, 544 páginas, R$ 69,90, 2022
E se, de repente, uma empresa surgisse com a promessa de prever todas as mortes que estão para acontecer ao longo das 24 horas de cada dia? Como isso afetaria nossa percepção sobre a vida e tudo o que nos circunda? Como encararíamos o luto nesta nova realidade?
Pode parecer um cenário difícil de visualizar, mas, para Adam Silvera, é a premissa perfeita para o universo ficcional da Central da Morte, uma empresa que, diariamente, faz ligações às pessoas que contrataram seu serviço e cuja vida esteja para chegar ao fim nas próximas 24 horas. Apelidadas de Terminantes, essas pessoas ganham assim uma última chance ainda em vida: a possibilidade de decidir como vão viver seu derradeiro Dia Final.
Introduzido no livro Os Dois Morrem no Final, esse universo ganha agora mais uma camada com o recém-publicado O Primeiro a Morrer no Final, prelúdio do primeiro título. Ambientada nas primeiras horas em que a Central inicia suas operações – no chamado Primeiro Dia Final –, a história revela detalhes sobre o surgimento da empresa enquanto descortina as dores e pesares dos protagonistas Orion Pagan e Valentino Prince, dois jovens cujos caminhos se cruzam a partir da inauguração deste inusitado empreendimento.
Com trajetórias de vida bem distintas, Orion e Valentino são conduzidos pela fugacidade das circunstâncias em que se encontram e, juntos, desbravam Nova York, revisitam acontecimentos passados, desabafam, enquanto dois jovens gays, sobre a relação com suas famílias, e descobrem novas possibilidades e experiências.
No entanto, a impressão é de que a trama, a cada página, suplica pela comoção do leitor e, assim, o forte elo que se tenta criar entre os personagens muitas vezes não convence. Além dos diálogos rasos, a história tem seu potencial solapado por uma infindável quantidade de clichês e de frases apenas jogadas para causar efeito.
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Com uma estrutura narrativa que intercala vozes em primeira e terceira pessoas, O Primeiro a Morrer no Final traz, além dos pontos de vista do casal protagonista, as várias perspectivas dos personagens coadjuvantes – o que é interessante nas primeiras páginas, mas que acaba revelando-se um recurso cansativo, que esvai as possibilidades de maiores aprofundamentos, à medida em que a história avança.
Justamente por isso, alguns pontos, cujas repercussões poderiam ser mais duradouras no arco narrativo, acabam sendo trabalhados de forma simplista – ou até mesmo ignorados. Como garantir, por exemplo, que as previsões não se tratam de meras profecias autorrealizáveis?
Tendo como pano de fundo um cenário que abre mais margem para dúvidas do que para certezas, a narrativa perde força ao assumir a postura de uma confiança cega na Central. Sem imprimir consideráveis nuances ao background, O Primeiro a Morrer no Final é, no fim das contas, só mais um romance genérico sobre como devemos aproveitar a vida e o tempo presente.
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