Crítica: O Pai, a Mãe e a Filha

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UMA POLIANA REINVENTADA
Ana Luisa Escorel constrói romance memorialista que declara, em tons nostálgicos, sua paixão pela infância

Por Fernando de Albuquerque
Editor da Revista O Grito!

Não importa o que nós somos. Não importa no que nos tornamos. O passado é, sem margem para dúvidas algo para lá de permanente em nossa memória. Uma ferida, mas porque não uma virtude (?), que está cravada de forma indelével em nossa memória e em nosso cotidiano. Não repetimos os erros que cometemos, ou repetimos só pelo prazer de não esquecer e fixar a lição. E a verdade por trás de tudo isso é que temos é que somos fruto de nossos pais, nos tornamos repetidores de suas ações e ideastas de nosso próprio desejo. Nos fazemos meninos, ou menina, inovando o sentimento a todo instante. E no final construísmos uma amálga de experiências vividas, outas imaginadas, que comungam aquilo que somos. Mas encheção de linguiça à parte, é esse sentimento de viver o entremeio entre o passado, o presente e o futuro que trata Ana Luisa Escorel, em O Pai, a Mãe e a Filha, editado pela Ouro sobre Azul.

Sensibilidade é a primeira marca que se sente no texto. A história nos relata as principais lembranças de uma menina entre os 4 e 8 anos vivendo suas principais experiências na São Paulo dos anos de 1940 e 1950 e sempre atenta a tudo que lhe acontecia e ao universo adulto que lhe cercava transformando tudo em motivo de extrema diversão nos contos de fadas, histórias de famílias e no registro de acontecimentos cotidianos.

A principal qualidade, contudo é o mix entre a voz da menina e a voz da adulta que faz o livro. Nesse entremeio vemos as experiências de uma menina em constante mudança e a experiência de uma mulher envolta na necessidade de rememorar. A nostalgia de reviver seus melhores momentos na casa dos pais. A experiência de brincar na rua e relembrar de uma cidade, já grande e metropolitana, mas ainda não tão sufocante quanto os dias de hoje.

A proza incorpora o coloquial à estrutura do texto o que dá certa leveza ao espaço/tempo localizado na cerne da narrativa. Mas o sentimento que permanece ao passar das páginas é que a leveza e pureza da menina paulistana não acabam nunca. Ana Luisa Escorel constrói um texto rico, mas que, em certo ponto, começa a se tornar repetitivo por tanta leveza e singeleza.

Não podemos esquecer da edição para lá de bem cuidada. A capa em tênue laranja dá o tom do que o leitor encontrará nas páginas seguintes. A narrativa é entrecortada por desenhos feitos pela própria autora no período coberto pelas lembranças. Impossível passar incólume pelas imagens, um tanto garranchadas, de um avião, do passarinho, de dois homens fazendo ginástica e do boi com cara de homem. Delicadeza e euforia que só encontramos nos primeiros anos de vida.

A MÃE O PAI E O FILHO
Ana Luísa Escorel
[Ouro Sobre Azul, 228 págs, R$ 35]