Crítica: O Discurso do Rei

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O Discurso do Rei

SOBRE MONARQUIAS E SUPERAÇÕES
O Discurso do Rei, sobre as agruras reais de um monarca gago, é uma produção talhada para uma disputa como Oscar

Por Alexandre Figueirôa
Editor da Revista O Grito!

oscar2Está em cartaz nos cinemas mais um dos fortes candidatos na corrida ao Oscar 2011: O Discurso do Rei, filme dirigido pelo inglês Tom Hooper e cuja lista de indicações é de causar inveja – doze – entre as quais as de Melhor Filme, Diretor, Ator, Ator e Atriz Coadjuvante, Roteiro Original, Montagem, Fotografia e por aí vai. Não restam dúvidas que estamos diante de uma obra talhada para este tipo de disputa. Um tema capaz de encantar, sobretudo, a platéia anglo-saxônica (o filme é uma co-produção do Reino Unido, Estados Unidos e Austrália), cujo fascínio por monarcas e superações é por demais conhecido, e contar ainda com um acabamento indiscutivelmente primoroso para este tipo de produção, ou seja, figurino impecável, encenação dos acontecimentos históricos devidamente estudada, fotografia irretocável e um time de atores brilhantes e conhecidos.

Tom Hooper dirigiu séries para a BBC e para a HBO e tem no seu currículo os filmes Sombras do Passado (2004) e Maldito Futebol Clube (2009) e nesta sua nova realização caprichou nos detalhes de reconstituição de um episódio da intimidade da família real britânica e suas repercussões políticas, cujo resultado é uma bem sucedida “humanização” da nobreza sem ferir os seus brios. Resumindo: mostra como um príncipe gago e inseguro, Albert Duke of York, ou Bertie para os íntimos, foi alçado em 1936 ao trono como o Rei George 6º  e atravessou com galhardia um dos períodos mais turbulentos do mundo no século passado: a 2ª Guerra Mundial.

A primeira sequência de O Discurso do Rei mostra Bertie, interpretado com precisão pelo excelente ator Colin Firth, fazendo o discurso de abertura de uma exposição do Império Britânico em 1925, mas cuja gagueira nervosa torna suas palavras ininteligíveis. Nos anos seguintes, sua dedicada esposa Elizabeth (Helena Bonham Carter) o conduz a inúmeros terapeutas que tentam em vão curar o seu problema. Quando tudo parece estar perdido, ela consegue convencer Bertie a tentar o excêntrico terapeuta australiano Lionel Logue, que com seus métodos pouco convencionais consegue algum progresso no tratamento e acaba tocando na fonte das agruras do príncipe, sua personalidade conturbada por conta das disfunções familiares provocadas principalmente por seu pai, o então rei George 5º.

Em 1935, George 5º morre e quem está na linha de sucessão é o irmão mais velho de Albert, que assume o trono como Edward 8º. Mas ele é obrigado a abdicar pouco tempo depois. Além de ser um playboy vaidoso e irresponsável, Edward queria fazer de uma divorciada americana com quem vivia a rainha, algo impensável para a monarquia britânica. Bertie logo se convence aterrorizado que será mesmo o rei e, como era de se esperar, desaba emocionalmente, sua gagueira torna-se ainda mais intensa e isto pode por tudo a perder. Elizabeth persuade o marido a voltar a se consultar com Logue que passa a treiná-lo para a cerimônia da coroação. Em 1939, é graças também ao auxílio do terapeuta que Bertie consegue proferir, sem falhas, o discurso de nove minutos, transmitido ao vivo ao povo britânico pelo rádio, anunciando a entrada do país na guerra contra a Alemanha e pode aparecer no balcão do Palácio de Buckingham como o bravo líder de todos os seus súditos.

Os melhores momentos do filme são realmente os que mesclam com humor as conversas e as altercações entre o príncipe e o seu terapeuta. O desempenho de Firth e a performance memorável de Geoffrey Rush como o australiano Lionel Logue estão afinadas e sintetizam de forma perfeita as intenções do roteiro. Nele, fica claro o desejo do diretor de estabelecer um contraponto entre a tensão e sisudez da situação de um rei atormentado por problemas emocionais e a irreverência provocada pelo terapeuta que com sua conduta debochada e excêntrica, embora respeitosa, é marcada ao mesmo tempo pela cumplicidade de quem compreende a fragilidade de seu interlocutor. É desta compreensão que nasce entre os dois personagens uma amizade sincera. O Discurso do Rei, obviamente, passa ao largo de inúmeras implicações políticas do período e no frigir dos ovos salva a pele do rei George 6º que apesar de admirar Hitler porque ele falava bem, colocou o Reino Unido do lado dos aliados contra o nazismo e preparou sua filha Elizabeth para assumir o trono direitinho como manda o figurino após a sua morte em 1952.

O DISCURSO DO REI
Tom Hooper
[The King’s Speech, EUA/ING/AUS, 2010]

NOTA: 8,0

Indicações Oscar 2011
Melhor Filme
Melhor diretor – Tom Hooper
Melhor ator – Colin Firth
Melhor ator coadjuvante – Geoffrey Rush
Melhor atriz coadjuvante – Helena Bonham-Carter
Melhor direção de arte
Melhor fotografia
Melhor figurino
Melhor montagem
Melhor trilha sonora – Alexandre Desplat
Melhor mixagem de som
Melhor roteiro original