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LÍSIAS E AS MEMÓRIAS QUE NOS ATORMENTAM
Livro traz personagem em busca de reconciliação (quase) impossível consigo mesmo
Por Iara Lima
Da Revista O Grito!, no Recife
“Desde que tudo isso começou, tenho percebido que, sentir saudades significa, em alguma parcela, arrepender-se”. O trecho é uma das tantas pérolas literárias cirúrgicas disparadas pelo paulistano Ricardo Lísias em O Céu dos Suicidas, um livro curto e ligeiro daqueles que – à primeira vista – pode ludibriar o leitor que acreditar em uma suposta simplicidade da obra, mas não se deixe enganar.
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Leia um trecho de O Céu dos Suicidas
Lançado pela Alfaguara este ano, O Céu dos Suicidas (186 páginas) é maravilhosamente denso e desfere verdadeiros socos no estômago ao narrar a trajetória de Ricardo (isso mesmo, seu homônimo), um historiador especializado em coleções que se perde em tons labirínticos em São Paulo, Santos e Beirute ao lidar com o suicídio de um dos seus amigos mais queridos de universidade, André.
A forma como o autor conduz o leitor desavisado a princípio parece simples, porém é certeira. Cada ‘capítulo’, narrado em primeira pessoa, não possui mais do que uma página. Frente e verso. Assim, aparentemente de forma ligeira, Ricardo revisita suas memórias de infância até chegar à vida adulta, colecionando selos, tampinhas de garrafa e os caquinhos de uma personalidade que atormenta a si próprio.
A perda de André faz com que Ricardo embarque em uma jornada em busca respostas. As perguntas trazem outros questionamentos e ele se confronta com um eu que sente falta de tudo – inclusive de André. “Sinto saudades de tudo e isso me irrita”. E suas escolhas o levam a Beirute, a um colapso nervoso, a uma busca espiritual em busca de uma reconciliação (quase) impossível consigo mesmo. O Céu dos Suicidas é um livro destes pra se ler assim, de uma golada de ar só.
Esta é a quinta obra do jovem autor (nascido em 1975), que já coleciona um terceiro lugar no Prêmio Portugal Telecom de 2006 com Duas Praças, disputou a final do Jabuti de 2008 com Anna O. e outras novelas e a indicação para a final do Prêmio São Paulo de Literatura em 2010 com Os Mandarins. Que venham outros.
O CÉU DOS SUICIDAS
Ricardo Lísias
[Alfaguara, 186 págs, R$ 34,90]
Nota: 9,0