Norah Jones mostra nova cara em disco minimalista
Por Juliana Simon
Já em Come Away With Me, em 2002, Norah Jones chamou atenção para sua voz única. A riqueza de arranjos, diferentes a cada disco e fase da cantora, também ajudou a coloca-la como revelação e, depois, talento consolidado da música americana. A surpresa deste novo Little Broken Hearts está justamente no cenário sonoro de suas músicas.
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Em parceria com o produtor Brian “Danger Mouse” Burton – com quem já havia trabalhado no projeto Rome -, Norah teve sua voz mergulhada em climas, ecos e nuances. As composições aparecem melancólicas e a interpretação, em alguns momentos, chega a ser sombria.
O próprio nome do álbum e as letras revelam que, obviamente, Norah trabalhou com o coração partido: “ela te faz feliz?” (verso da ótima “She’s 22”) e “adeus” são só algumas das palavras que denunciam a tristeza. A despedida já dá o tom desde a primeira música “Good Morning” (que parece uma canção de ninar, que começa com uma base de guitarra e termina com um arranjo de violinos) e a temática prossegue em ritmos diversos. “Say Goodbye”, por exemplo, ganha uma pegada hip hop.
A música-título “Little Broken Hearts”, “After The Fall” “Take It Back” são os destaques mais soturnos (surpreendentemente, combinados a interpretações mais doces da cantora). Enquanto na primeira e na segunda, as batidas são constantes e simples, na terceira – a com o instrumental mais elaborado do trabalho – entra um piano, uma guitarra mais rasgada, mais arranjos de violinos, cada um de uma vez e depois todos juntos, fazendo-a ficar gigantesca dentro do minimalismo do álbum.
Fazendo escola no projeto “Rome”, “4 Broken Hearts” (mais uma cheio de versos amargurados como “então você tentou me substituir” e “tentei de apagar”) tem uma pegada country, guitarra marcante e um refrão majestoso. Com jeito de caixinha de música, “Travelin’ On” é estranha, mas agrada pela leveza quase extrema.
A bonitinha, mas ordinária “Out On The Road” segue a mesma fórmula de esquisitices com um instrumental à trilha de sala de espera. Outro ponto baixo são as sonolentas “Miriam” e “All A Dream”, que fecham o álbum. Ao abusarem do “coolness”, ficam cansativas.
Escolhida como primeiro single de “Little Broken Hearts” e com sabor dos grupos vocais dos anos 60, “Happy Pills” sintetiza bem o álbum e suas novidades. Apesar de marcado por um término de relacionamento e mais soturno que qualquer outro trabalho feito por Jones (perdendo, talvez, para sua incursão no mundo do cinema em Um Beijo Roubado), Little Broken Hearts mostra que a simplicidade pode ser lapidada, paradoxalmente complexa e bela.
NORAH JONES
Little Broken Hearts
[Blue Note, 2012]
Nota: 8,0