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O ator Adelino interpreta Paulo, um jovem indígena que luta contra a dependência química. (Foto: Divulgação/Vitrine Filmes).

Crítica: Noites Alienígenas traz a periferia amazônica sob o realismo fantástico

Considerado o primeiro longa do Acre a chegar às salas de cinema nacionais, o filme apresenta uma Amazônia urbana marginalizada e pouco retratada nas telas

Crítica: Noites Alienígenas traz a periferia amazônica sob o realismo fantástico
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Noites Alienígenas
Sérgio de Carvalho

Brasil, 2022, 1h31, 16 anos. Distribuição: Vitrine Filmes
Com Gabriel Knoxx, Adanilo Reis e Gleici Damasceno
Em cartaz nos cinemas

O cinema tem essa poderosa capacidade de nos imergir em realidades e vivências muito distintas daquilo que estamos habituados. É a partir das narrativas e representações exibidas nas telas que formamos e ampliamos, dentre outras coisas, percepções sobre o mundo em que estamos inseridos. Portanto, é através dele que também pensamos o Brasil, enquanto povo, enquanto território, enquanto (projeto de) nação.

Contudo, ao olharmos para as produções que circulam nacionalmente, o que temos hoje ainda é insuficiente e não abrange a imensidão desse território que carrega o título de país continental, especialmente quando consideramos o espaço negado a região Norte. Nesse sentido, Noites Alienígenas, do diretor Sérgio de Carvalho, chega aos cinemas com a missão de embarcar o público em uma viagem por um Brasil ao qual todo o resto ainda vira as costas.

O longa-metragem, que é o primeiro do Acre a ganhar as salas de cinema nacionais, emprega elementos do realismo fantástico para apresentar uma Amazônia urbana e periférica ainda pouco explorada no audiovisual. Em essência, é uma produção que assume a responsabilidade de retratar o que está à margem da própria margem do Brasil.

Ambientada na periferia da capital Rio Branco, a trama é protagonizada por Rivelino (Gabriel Knoxx), Sandra (Gleici Damasceno) e Paulo (Adanilo Reis), três jovens cujas vidas estão entrelaçadas e têm como denominador comum o impacto, em algum nível, da violência urbana e da rota do tráfico de drogas que começa a passar pela região. O roteiro, assinado por Carvalho ao lado de Camilo Cavalcante e Rodolfo Minari, é livremente inspirado no livro homônimo escrito pelo cineasta.

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Chico Díaz e Gabriel Knoxx em cena como Alê e Rivelino. (Foto: Divulgação/Vitrine Filmes).

Enquanto trabalha para traficantes locais e tenta sobreviver da maneira que pode, Rivelino encontra no rap e no grafite possibilidades de escape. Ele é apaixonado por Sandra, uma jovem mãe negra que sonha em estudar medicina e encontra refúgio na potência das batalhas de poesia, conhecidas como Slam. Ao passo que Paulo, um jovem indígena e pai do filho de Sandra, afunda na dependência química ao mesmo tempo em que se encontra em conflito com sua própria ancestralidade.

Ao optar por esse protagonismo um tanto fracionado, Noites Alienígenas expande as possibilidades e faz ecoar as diferentes vivências que habitam uma mesma realidade. “Dentro desse mundo, tem outros mundos. E dentro desses outros mundos, tem outros mundos”, como revela Alê (Chico Diaz) em uma das cenas iniciais. Dessa forma, cada personagem carrega uma perspectiva única que, quando combinadas, criam uma imagem mais completa de uma periferia amazônica que, assim como a floresta, teima em resistir ao que alguns chamam de “progresso”.

Dito isso, a trama também lança luz sobre diferentes caminhos para o Brasil. De um lado, está posto o “crime atrás do progresso”, que abduz e mata a juventude periférica e os povos originários, relegados à margem da sociedade — cenário lamentavelmente ainda mais comum após a ascensão do bolsonarismo. É, antes de tudo, uma denúncia à invasão das facções criminosas do Sudeste à Amazônia.

Do outro, porém, há a riqueza e a ancestralidade das diferentes etnias indígenas que ali habitam aliadas à pungência criativa da juventude negra. Assim, é a resistência de ambas frente às constantes ameaças que impedem que a região se torne inóspita e seja completamente sequestrada por essas forças exteriores, ou colocando em outras palavras, alienígenas.