ANTI-GUIA PERFEITO
Despretensioso e divertido, o relato da eurotrip de Paulão de Carvalho (Velhas Virgens) pela Europa divide-se entre um guia de viagens, um diário e uma história descontraída
Por Juliana Dias
Em São Paulo
Quando se tem pouco dinheiro, mora muito longe ou falta tempo (muitas vezes, os três) é difícil se imaginar decolando para a Europa, por mais que já se tenha uma longa estrada de vida. Paulão de Carvalho, da banda Velhas Virgens, preencheu esses quesitos acima até conseguir realizar o sonho de ter uma lua-de-mel na Europa com a mulher, Dex. França era o principal país da viagem, que também contou com passagem na Espanha, Inglaterra, Holanda e Itália. É este relato que recheia o livro Na Terra das Mulheres Sem Bunda, lançado pela Panda Books.
O livro não pretende ser um manual de viagens, mas bem que poderia ser. Ou um blog, cuja linguagem Paulão conhece bem. Desde a primeira página, recebemos dicas para passear sem gastar muito e beber cerveja boa a baixo custo. Paulão conta o dia-a-dia na Europa concentrando-se nos lugares e nas dicas, deixando os detalhes de seu casamento de fora. Algumas dicas de “não fazer” foram experimentadas pelo próprio autor: podem existir trombadinhas quando menos se espera (na dúvida, veja se é só um chapado) e garçons que se acham melhores que os demais em restaurantes franceses, por exemplo. Escapar disso depende do jogo de cintura, o que Paulão tem de sobra, encontrando novos amigos e reconhecido até em Madri por sua banda.
Talvez uma das maiores dicas atinja aos interessados em mulheres européias. A epifania aconteceu quando ele escovava os dentes: as europeias não tem bunda! Durante o livro, os assuntos mudam o tempo inteiro, falando de cervejas, das comidas e das praças, mas a curiosidade sobre as bundas volta a cada país novo. E o lugar mais próximo de ter alguma foi em Volendam, na Holanda, mas nada “provocantes”. A cara da banda Velhas Virgens: sem pudor para falar o nome das coisas como realmente são, e contando o que muitos querem saber.
Junto à análise das bundas, Paulão também analisa as pessoas. E mostra que a maior parte do tempo acredita estar na Europa realizando o seu sonho com a mulher. E também vêm as dúvidas: estar fora do país é ótimo, mas e se acontecer alguma coisa? Não dava para simplesmente ligar para alguém. A adaptaçãoacontece na prática, durante o corre-corre dos metrôs e aeroportos. O resultado é conseguir aproveitar os momentos romântico na Torre Eiffel, caminhar nas ruas influenciadas pelos Beatles em Liverpool, correr os riscos de trazer presentinhos da Holanda (que podem não ser legalizados em outros países), sentir o clima familiar de um nonno na Itália, e ainda apreciar pastas de lá, que aproximam-se do Brasil quando lembra-se do Bixiga (bairro de São Paulo). Tudo correu bem. De qualquer forma, foi bom ter um canivete para se proteger dentro da babagem.
Narrado de forma divertida, Na Terra das Mulheres Sem Bunda mostra que apesar de ter pouco dinheiro, é possível fazer uma bela viagem. E se você tiver uma companhia que você ame ajude a planejar tudo, igual à Dex do Paulão, melhor ainda. Em tempos de tantas informações relatos na internet, fazer um vôo às terras estrangeiras de forma independente pode render histórias ainda mais divertidas que aquelas vindas de pacotes turísticos.
NA TERRA DAS MULHERES SEM BUNDA
Paulão de Carvalho
[Panda Books, 336 págs, R$ 44,90 / 2011]