Crítica: Kali Uchis cria um pop único entre o retrô e o moderno

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A colombiana-americana Kali Uchis é exemplo atual da leva de artistas que chegam bem lapidadas já no trabalho de estreia. Poucos conseguem chegar com um primeiro álbum coeso, sem deslizes e com propostas bem executadas. Foi o caso de Lily Allen com Alrigth Still (2006) e Lorde com Pure Heroine (2013) são exemplos disso.

Artistas como Kali soam bem decididos com os caminhos que irão percorrer, maduros musicalmente e presenteiam o público com um catálogo musical assertivo do começo ao fim da audição.

Mas o caminho percorrido por Karly-Marina Loaiza, nome de batismo da artista, foi gradativo. Um EP e alguns singles foram lançados antes da sua estreia oficial, que mostravam pequenas experimentações que já destacava a qualidade do trabalho da cantora. O mesmo percurso foi utilizado por SZA, que antes de sua estreia com o aclamado CTRL (2017), já havia testando outras sonoridades, como no EP Z (2014).

Somado a isso, Kali adquiriu uma grande bagagem de experiência artística desde pequena. Foi introduzida na música pelos pais. Cresceu tocando piano e saxofone, lançou uma mixtape ainda no ensino médio, com influências de diversos gêneros da black music. Tudo isso enquanto viajava constantemente dos Estados Unidos para Colômbia. São pequenas particularidades da vida de Uchis que com toda certeza moldaram a artista que hoje ela se tornou.

E é com Isolation (2018), seu álbum de estreia, que toda essa trajetória se solidifica. Ainda que lançado no primeiro semestre desse ano, o trabalho da colombiana está longe de ser um material esquecível. São 15 canções que passeiam por diversos gêneros, desde um r&b lascivo, ao um soul com boas doses nostálgicas do que era produzido pela Motown e até a ritmos mais contemporâneos, como o reggaeton na faixa “Nuestro Planeta”.

Kali também não deixa de brincar com os elementos eletrônicos. Enquanto se entrega a devaneios sobre um relacionamento perfeito em “In My Dreams”, o ouvinte adentra num universo de sintetizadores, batidas robóticas e outros ruídos que parecem ter saído de algum joguinho da Nintendo.

Uma das características que marcam o primeiro trabalho de Uchils é a harmonia estabelecida entre as canções. Com um número considerável de produtores, entre Kevin Parker do Tame Impala; Tyler The Creator; Thundercat e até Gorillaz; Isolation em nenhum momento se esquiva da atmosfera voluptuosa, onírica e levemente psicodélica que estabelece desde “Body Language”, primeira faixa do álbum, e que inebria o ouvinte com uma bossa-nova sensual.

Com toda a ótima produção no quesito instrumental, Kali não descuida das composições. É quase impossível não comparar com a mesma base poética que SZA se utilizou para compor as canções em CTRL. Assim como SZA, a colombiana trata de assuntos delicados a respeito dos relacionamentos amorosos, porém prefere confrontar esses sentimentos ao invés de lamentá-los.

Isolation é um álbum dinâmico. Kali traz um catálogo diversificado de canções e ritmos, uma pintura abstrata que veio ao mundo pelas mãos e influências de diversos artistas, mas que no fim, mostra um resultado harmonioso, sem incoerências.

Há momentos dançantes como em “Just A Stranger”, há baladinhas levemente melancólicas como “Killer” e canções que mergulham o ouvinte numa atmosfera climática e positiva como na ótima “After The Storm”. Um ótimo registro e um dos melhores álbuns deste ano.

KALI UCHIS
Isolation
[Universal, 2018]
Produzido por Thundercat, Sounwave, entre outros

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