Justin Timberlake e a lacuna na música pop
Novo disco cumpre expectativas, traz boa mistura de R&B e soul, mas recorre demais a velhos truques
Por Paulo Floro
Talvez não seja exagero dizer que Justin Timberlake é o maior astro pop masculino dos dias atuais. Afinal, com quem ele concorre? Com poucos concorrentes de peso, ele chega em seu terceiro disco com status de gigante, confortável no topo da pirâmide e com o manejo afiado de sua fórmula: falsetos, R&B, dancinhas e sensualização pesada em frente às câmeras. Esse entendimento preciso que Justin tem da indústria do entretenimento é o que o cantor tem de mais genial. Mas, seu disco também bons momentos, ainda que não traga nenhuma novidade.
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Ator, empresário, cantor, produtor, Justin Timberlake saiu imune da pressão que a indústria colocou em cima de sua carreira, desde o Clube do Mickey, passando pela boy band N’Sync, indo para a aventura em Hollywood com bons e maus momentos e chegando em aclamação da crítica de seu segundo disco FutureSexx/LoveSounds. É preciso ter personalidade e cabeça no lugar para não sucumbir com tantas expectativas. Britney Spears que o diga. É essa segurança que fez com que Justin ficasse sete anos sem lançar um trabalho novo, e ainda assim, manteve o interesse por sua imagem.
Para este retorno, ele planejou bem. The 20/20 Experience é um disco conceitual no sentido de ser bem trabalhado visualmente. Clipe, primeiras imagens divulgadas e aparições recentes mostram interesse do cantor em fazer referência ao Jazz dos anos 1950, estética dos cabarés e bares esfumaçados, além de elegância classuda-retrô reforçado pelos impecáveis ternos Tom Ford. Por baixo da embalagem, Timberlake entrega o que já vem fazendo desde o seu primeiro trabalho: R&B, voz fina cheia de falsetos, coreografias, e doses bem distribuídas de baladas e faixas dançantes.
O primeiro single, “Suit&Tie” tem uma energia incomum proporcionada pela surpresa de seu retorno, o que gera até certa frustração. Nenhuma outra música no disco a supera, o que pode já desanimar de antemão os que não curtiram muito o hit. “Mirrors”, o segundo single é a faixa lenta de destaque, o que também era previsível. O interessante é tentar encontrar o que o músico colocou de menos óbvio. É o caso de “Blue Ocean Floor”, uma música depressiva escondida no caldeirão de auto-estima que é este álbum. (Talvez exista alguma insegurança no “maior astro pop do século 21”).
“Tunnel Vision” é uma das muitas faixas que pegam inspiração no Hip Hop, chegando nem perto das experimentações que nomes como Kendrick Lamar costuma utilizar. Parte disso é culpa de Timbaland, que já trabalhou em seu disco anterior e Jerome “J-Roc” Harmon, produtores de The 20/20 Experience. O mesmo podemos dizer da batucada, quase afrobeat, “Let The Groove In”, que mostra a abertura do cantor em experimentar. As faixas de trabalho, no entanto, devem seguir uma proposta sonora que não assuste muito sua audiência. Nesses petardos menos esquisitos, também temos faixas boas. É o caso de “Don’t Hold The Wall” e “Spaceship Coupe”.
The 20/20 Experience tem boas composições que trazem um R&B sofisticado, com ideias pouco exploradas do gênero, em algumas faixas. Há também soul que parecem fazer eco a um Isaac Hayes, com Justin mostrando domínio de sua voz bem melhor que seus álbuns antigos. Em outras, o músico parece querer se arriscar pouco e recorre a truques. Em balanço, é um disco que valeu a pena o tanto que foi aguardado. Nas letras, Justin mostrou fixação em mostrar seu lado sedutor, fazer metáforas pobríssimas sobre sexo, chegando a comparar seu pênis a um pirulito. Em faixas como “Mirrors” e “Tunnel Vision”, quis fazer uma reflexão sobre sua condição de celebridade.
Outro problema no álbum é com a duração das faixas. A mais curta tem 5 minutos e 26 segundos, “Suit & Tie” (sem contar as duas bônus, “Dress On” e “Body Count”, com seus quatro minutos e poucos). De resto, a maioria fica na casa dos sete minutos, chegando a 8:05 com “Mirrors”. É uma ousadia que funciona muito bem em um álbum marcado por uma unidade como é o caso deste, mas tornam-se cansativas se ouvidas de forma independente, no rádio por exemplo. Além disso, nem todas as músicas se seguram por um tempo tão arrastado.
The 20/20 Experience conta a história de um ídolo pop que retorna para ocupar um lugar que foi deixado vago pelo próprio. Desde sua explosão no meio dos anos 2000, ficou caduca a comparação com Michael Jackson, que já não tinha fôlego desde o final dos anos 1990. Por entender melhor do que ninguém o zeitgeist e o modus operandi da indústria em que trabalha, Justin Timberlake ocupa o trono do pop sem precisar lutar com ninguém.
JUSTIN TIMBERLAKE
The 20/20 Experience
[RCA, 2013]
Preço: R$ 26 em média (importado) ou via iTunes
Nota: 8,1
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