Crítica: HQ-reportagem “Raul”, de Alexandre de Maio, debate sobre o sucesso e o crime

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8.5

Alexandre De Maio é um dos maiores nomes do jornalismo em quadrinhos, um gênero ainda pouco explorado pelos autores nacionais. Ele publicou reportagens em diversos veículos com destaque para a Agência Pública, além de ter trabalhos publicados em livros em parceria com outros autores. Raul é seu primeiro livro solo. E que estreia!

A obra fala de Rafa, um jovem que cresceu na Baixada Glicério, região central de São Paulo. Desde cedo em contato com o crime ele comete assaltos, quase é morto pela polícia, mas acaba se tornando um “raul”, gíria dada para criminosos que aplicam golpes de cartão em agências bancárias. Mas o curioso é que esse mesmo Rafa acaba apostando no mundo da música e acaba se tornando um rapper famoso.

RaulCapaA trama acompanha essa trajetória peculiar de Rafa desde sua infância até sua aclamação como rapper, passando pelas passagens pela prisão. De Maio consegue manter o ritmo acelerado da narrativa sem soar apressado nem didático demais. Como bom repórter, ele deu profundidade ao seu personagem e evitou fazer juízos. Rafa ganha voz através de suas entrevistas e aparece de maneira crua para que o leitor possa criar seu próprio entendimento.

De Maio usou o preto e branco para contar a história e desenhou os personagens sem rosto, como forma de evidenciar que a história contada, apesar de inusitada, é a mesma de milhares de jovens do Brasil. Uma história de desigualdade social como pano de fundo para as possibilidades trazidas pelo crime. O protagonista titubeia entre apostar na carreira musical ou manter a cobiça do estilo de vida trazido pelo crime. A HQ traz boas saídas criativas para contar a trajetória do personagem sem soar didático, usando por exemplo metáforas visuais em páginas duplas.

De Maio também detalha como funcionam os golpes com cartão de banco e as falhas no sistema prisional em um cuidadoso trabalho de investigação jornalística. Com a profundidade que pede uma boa reportagem longa, Raul mantém fôlego para fisgar o leitor em uma história bem contada. Como disse Emicida na contracapa: “De Maio é o Joe Sacco dos gringos”. Que esta publicação instigue editoras a apostar nesse gênero que já rendeu trabalhos interessantes.

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De Alexandre De Maio
[Elefante, 176 páginas, R$ 40]

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