Clube Vampiro traz histórias de máfia no melhor estilo Família Soprano
Por Paulo Floro
O lendário quadrinista Howard Chaykin (American Flagg) criou uma abordagem interessante dos vampiros. Em Clube Vampiro, série da Vertigo que a Panini acaba de lançar no Brasil, ele imaginou os sanguessugas como peças importantes do crime organizado. Ao lado de David Tischman, ele fez uma espécie de Família Soprano bebedora de sangue, com trama recheada de traição, intrigas familiares, corrupção e drogas.
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A história se passa em Miami, nos EUA. O patriarca da família, Eduardo Del Toro, é assassinado e dá início a uma intrincada luta pelo poder do chefão do crime organizado na cidade.
Ele deixou três filhos, todos com seus segredos e vulnerabilidades, mas igualmente perigosos. Risa, uma vampira linha dura dona de uma gravadora, que não nutre nenhuma compaixão pelos humanos; Eddie, cuja maior preocupação é livrar seu filho adolescente Danny de problemas, e Leto, um padre que sofre para conter a predisposição da família pelo crime e pouco apreço pela vida alheia. O problema é que o testamento de Eduardo o encarregou de tomar conta dos negócios.
Chaykin imaginou os vampiros como uma alegoria dos imigrantes nos EUA e sua atuação no País ao longo dos anos. A família Del Toro parece exemplificar o desconforto de latinos, italianos e outros grupos que chegaram à América ao longo do último século. Eles sofrem preconceito nas mais variadas instâncias e classes sociais e, cada um a seu modo, desenvolvem maneiras de sobrepujar o determinismo histórico.
A partir do olhar de Leto vemos todas as entranhas dos negócios da família, que incluem um milionário negócio envolvendo o desenvolvimento de uma droga ligada aos vampiros e tratamentos de doenças que atingem percentagens minúsculas da população. Como esses remédios não são produzidos em massa, eles cobram caríssimo por eles.
Como é o mais próximo aos humanos, a experiência de transformação de Leto ao longo da história prende a atenção do leitor. Imortais e superpoderosos, Chaykin e Tischman gastam pouquíssimo tempo nessa parte mais espetacular da história dos vampiros – o que é ótimo. Já bastante explorado por outras mídias, os poderes vampíricos pouco adicionariam a essa história que mistura política e drama familiar. Já o ingrediente sexual – imprescindível para toda obra sobre vampiros – está bem representado. Como lembra os autores, o vampiro apareceu na ficção gótica como uma confrontação à moralidade rígida da era vitoriana. Ainda hoje, séculos depois, eles são representações contra a hipocrisia vigente ao darem vazão aos seus desejos, por mais cruéis que sejam.
Apesar do bom argumento, a HQ falha apenas na condução da trama, que ganha contornos batidos quanto à personalidade dos personagens. O estilo linha dura de Risa já foi muito bem tratado nas histórias de Garth Ennis em Preacher e Justiceiro, por exemplo. Além disso, as referências a O Poderoso Chefão até se tornam interessantes por algumas páginas, mas em seguida se tornam entediantes. Os roteiristas também se escoraram bastante nos estereótipos da Vertigo, como a violência estilizada.
A arte de David Hahn, com sua linha clara e enquadramentos sóbrios ajudaram a focar atenção na trama. Mas são as cores de Brian Miller o trabalho que mais chama atenção. Ele usou uma paleta de cores para cada cena, traduzindo a emoção necessária para cada parte da história.
Ainda que esteja distante dos clássicos de Chaykin, Clube Vampiro é uma interessante abordagem dos vampiros. E para quem ainda não se cansou desses personagens enquanto conceito, vale uma lida. Lançada como minissérie lá fora, Clube Vampiro ainda tem ainda outro volume além desse, o que deve ser lançado pela Panini em breve.
CLUBE VAMPIRO
Howard Chaykin, David Tischman (roteiro) e David Hahn (arte)
[Panini Comics, 158 pags, R$ 19,90 / 2014]
Tradução: Mário Luiz C. Barroso
Nota: 7,5