Crítica: Frank Ocean | Channel Orange

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EMOÇÕES AO ESTILO TUMBLR DE SER
Cheio de texturas, Frank Ocean responde às expectativas com álbum que adiciona novidades ao R&B

Por Paulo Floro 

Frank Ocean conseguiu lidar bem com a expectativa imposta pelo mercado depois da boa recepção que teve com sua mixtape lançada ano passado, Nostalgia, Ultra. Seu álbum Channel Orange foi lançado este mês, dias depois dele assumir publicamente sua homossexualidade. A revelação não só revelou a coragem de um estreante astro pop em relação a um tema que ainda desperta polêmicas, mas também o colocou em evidência para quem estava alheio à sua relevância na música hoje. Musicalmente, ele também seguiu se arriscando, adicionando novidades ao R&B e, de certo modo, ao Hip Hop.

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Channel Orange é representativo para a música pop feita nos dias atuais e revela um modus operandi exitoso de artistas que começam a carreira de maneira independente, mas bastante sofisticada. A estratégia de lançar mixtapes é ótima para antecipar influências, estilos e revelar referências. Uma espécie de cartão de visitas mais bem acabado. Feito com baixo custo, esses discos disponibilizados online tem uma produção muito bem feita e não devem em nada aos lançamentos convencionais. Por isso, este seu álbum de estreia, com composições inéditas e gravado do zero em estúdio teve uma expectativa ainda maior.

Cheio de texturas, Channel Orange traz melodias com um grave acentuado, muito groove, jazz, funk, soul, e elementos de música eletrônica. Ocean ainda colocou interlúdios no trabalho, como se quisesse registrar seu cotidiano. O álbum abre com barulhos de mensagens de texto recebidas, um PlayStation sendo ligado, trecho da música de abertura do game clássico Super Street Fighter II, além de outros diálogos. Há muito o que se descobrir no álbum e isso é apenas um detalhe da importância que ele irá ganhar nos próximos anos. Detalhista, Ocean parece ter construído o disco como se fosse um Tumblr, um almanaque nervoso em que se misturam momentos densos, textos longos, com a rapidez de vídeos, gifs, citações, pequenos trechos de áudio, fotos do Instagram, tuítes, e o que mais couber.

Os temas também são dos mais diversos. Todos foram escritos pelo próprio músico, com participações como Pharrell Williams, Malay (pseudônimo do produtor James Ho) e Andre 3000, entre outros. “Thinking About You” e “Bad Religion” são prováveis composições sobre seus relacionamentos amorosos e o amor que sentiu por um homem (como ele já explicou em detalhes em uma carta postada em seu blog). Há ainda alusões sobre o showbiz, drogas, além de personagens que toparam com o cantor desde os primórdios de sua carreira. Em sua maioria, são letras carregadas de melancolia, algumas um tanto depressivas, e que quase nunca trazem um bom desfecho.

Nascido como Chistopher Breaux, Frank Ocean, de 24 anos começou a carreira no coletivo de rappers OFWGKTA,  ou simplesmente Odd Future. Conhecido como “o cantor de R&B do grupo”, ele sempre se destacou pela sensibilidade e vocal mais melancólico em meio a nomes que prezam pela provocação e discurso mais duro, como é o caso de seu colega Tyler The Creator (e seu vocal que imita um ~demônio~). Era clara seu destaque na banda. Quando assumiu em público que era gay, potencializou uma controvérsia, dado que o Odd Future já foi acusado de expressar a homofobia nas letras.

Em um mercado marcado pela heterormatividade, onde se assumir ainda é um risco de destruir toda uma carreira, ele chega aclamado em sua estreia com um dos melhores discos do ano. Além de sua mixtape, seu talento já foi comprovado por diversos artistas que já cantaram letras escritas por ele, como Beyoncé, John Legend e Brandy. Channel Orange pode não ser o melhor disco de 2012, mas é o mais representativo sobre como a música pop, enfim, mostra sinais de que caminha para um rumo inesperado.

220px Channel ORANGEFRANK OCEAN
Channel Orange
[Def Jam, 2012]

Nota: 9,4