Fim de Feira
Forró da Liberdade
Independente, 2023. Gênero: Forró
Ainda que não precisemos de períodos específicos para ouvir determinado gênero musical, Junho combina muito bem com o forró. O clima das festas juninas pede o ritmo. E é neste espírito, com o intuito de nos aquecer para esse período tão singular para a cultura nordestina, que a banda Fim de Feira lança o seu mais novo disco Forró da Liberdade.
O álbum se junta a uma trajetória de três álbuns e dois DVDs na carreira desde 2004, marcando a quebra de um hiato de 12 anos sem lançamentos. Além do retorno, o disco também simboliza um momento de libertação pós-pandemia, já que o trabalho foi atingido pela fase caótica.
Libertos, Bruno Lins (vocal), Márcio Silva (bateria), Luccas Maia (baixo), Antônio Muniz (sanfona), Thiago Rad (guitarra) e Lucivan Max (percussão), atual formação da banda renovam o repertório pautados num resgate às raízes tanto do grupo quanto da música nordestina.
A tradição do forró é exaltada ao longo das 12 faixas. Quem abre a sequência é “Sou da Banda”, como um anúncio desse retorno, disseminando a mensagem principal do disco, embalada pelo baião: na missão de espalhar esse forró para ver o povo todo se alegrar.
Esse valor ao modal mais tradicional do ritmo se prova também nas temáticas que abraçam. O cancioneiro romântico e típico ganha destaque em faixas como “Superbonder”, “Período Zen”, “Carrapicho” e “Talvez Eu Esqueça”, trazendo a junção característica de uma sanfona líder com o triângulo e a zabumba. O trio segue basilar para o trabalho como um todo, sujeito a variações, com uma sanfona, outrora mais chorosa, ou uma percussão mais ritmada e sincopada.
O amor, além de pautar as composições, também se identifica nos propósitos do disco. Essa relação de afeto com o forró é representada nas participações ilustres de mestres que construíram o ritmo neste patamar de excelência. São os casos de “Mudei de Ideia”, com Walmir Silva, grande compositor de caruaru; “Namorando de Novo” com Assisão, lenda serra-talhadense do forró nordestino; a vigorosa “Monomotor” cantada solo pelo repentista e cordelista baiano Bule Bule, e ainda, “Manda Buscar Biliu”, uma homenagem ao paraibano Biliu de Campina interpretada junto ao mesmo.
As gravações das faixas exigiram viagens pelas terras em que os medalhões do forró moram, passando por Caruaru, Serra Talhada, e até mesmo recebendo Biliu de Campina direto da Paraíba no agreste pernambucano para a realização da parceria. Já o feat com Bule Bule foi realizado de forma remota.
Outro encontro grato trazido em Forró da Liberdade é o apresentado em “Formigueiro”, com as vozes de Riáh e Isabela Moraes, expoentes da música pernambucana. Na faixa, um arranjo vocal bem característico, um coro cheio regido por oitavas. Esta é uma das mais divertidas da sequência, trazendo a irreverência desse cancioneiro.
A banda ainda abre espaço para experimentar. Podemos perceber um diálogo cordial da guitarra moderna com a estética tradicional do trio de instrumentos base (sanfona, zabumba, triângulo) em “Virgulino”, e até mesmo o mix do frevo, com o forró e o caboclinho em “Tiro Fatal”, fechando o disco de forma impactante.
Ter Fim de Feira de volta aos lançamentos com essa roupagem é revigorante. Não só pela proximidade com as festas juninas, período em que o forró retoma certo destaque, mas sim pela repaginação dessa sonoridade, que já há algum tempo vem perdendo espaço para suas vertentes mais modernas.
O novo disco rememora a tradição com relevância e impacto, uma vez que foi através dela que os tantos cenários desse ritmo nordestino surgiram. Com o lançamento, os ouvintes ficam aquecidos não só para o São João mas também para o que vier pela frente da banda com o forró.
Ouça Fim de Feira – Forró da Liberdade
Leia mais críticas de discos