Foxcatcher mira no lado depressivo e feio do sonho americano
Para um diretor com uma curta filmografia, Bennett Miller possui um estilo bem definidos. Com Foxcatcher – Uma História Que Chocou O Mundo, ele retorna mais uma vez a uma história verídica para olhar dentro do sonho americano e expor seu lado mais sujo. E novamente contou com atores de primeira grandeza para expor seu ponto de vista.
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Depois de chamar atenção com Capote, que deu o Oscar de melhor ator para Philip Seymour Hoffman e ganhar seis indicações na Academia com Moneyball – O Homem Que Mudou o Jogo (2011), Miller entrou no radar de festivais e premiações a cada produção que lança. Este último Foxcatcher fez parte da seleção oficial do Festival de Cannes no ano passado e recebeu cinco indicações ao Oscar deste ano, incluindo melhor direção, e encenação para Steve Carell e Mark Ruffalo.
Todo esse prestígio celebra merecidamente um dos diretores mais autorais em Hollywood hoje. Foxcatcher mostra a história de Mark Schultz (Channing Tatum), um campeão olímpico de luta greco-romana que é treinado por seu irmão mais velho, David (Mark Ruffalo), uma lenda no esporte. Mark recebe o convite do milionário John Du Pont (Steve Carell), um apaixonado pelo esporte que montou um centro de treinamento em sua propriedade.
Atraído pelas propostas e pela infra-estrutura do lugar Mark se muda para o lugar onde passa a ser a grande estrela do recém-formado time de luta de Du Pont, a Foxcatcher. É nesse ambiente isolado que a amizade entre os dois vai se desenvolver até uma obsessão. Du Pont é um homem de temperamento difícil, criado em um ambiente rico e impessoal por uma mãe campeã de hipismo – sempre considerou a luta um esporte “inferior” e tratava o filho com rispidez e distância.
Em Foxcatcher, Mark percebe o perigo que reside na aparente dedicação de Du Pont ao mesmo tempo em que realiza que trilhou um caminho também perigoso para um atleta. Aos 27 anos e prestes a competir nas Olimpíadas de Seul em 1988, ele se viu em crise consigo mesmo e refém de um ambiente do qual nunca pertenceu de verdade. Para ajudá-lo seu irmão David decide largar tudo e levar a família até o local como forma de treinar a equipe de DuPont.
Para quem não é norte-americano, a história é praticamente desconhecida. Mas Bennett Miller consegue dar a dimensão humana necessária para que todos se encontrem dentro desse jogo de paixão e autodestruição. O péssimo subtítulo em português quase estraga a experiência do filme ao criar uma expectativa de uma história incrivelmente chocante. O que temos é um trama tensa, filmada de maneira meticulosa para mostrar as entranhas da alma humana no que ela tem de pior.
Miller se especializou em usar histórias reais para apresentar um ponto de vista bem específico. Neste aqui ele quis mostrar os perigos da ambição e da competitividade a todo custo. É também um parábola sobre paranóia e culto ao sucesso típico da sociedade norte-americana. E nenhum ambiente aglutina todos esses temas de maneira tão intrínseca do que os esportes. Com uma direção sóbria onde nada parece fora do lugar, Foxcatcher se vale de três atores nas melhores interpretações de suas carreiras. Não há arroubo, histeria, nem grandes momentos de catarse. O que temos é uma encenação que abraça todas as fraquezas e contradições dos personagens sem tentar manipular os sentimentos do espectador.
É nítido o controle ferrenho do diretor com seus atores e roteiro, o que tornou o filme muito centrado em si mesmo. Não há espaço para interpretações, debates: está tudo ali, do jeito que Miller planejou. É um tipo de cinema que não dialoga com o público, uma escola de direção que se vale pela distância e pela meticulosidade.
Foxcatcher não é o tipo de filme que ficamos ansiosos para ver uma segunda vez. Mas seu tom depressivo e incrivelmente real deixa marcas na memória durante um bom tempo. [Paulo Floro]
FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO
De Bennett Miller
[Foxcatcher, EUA, 2015 / Sony Pictures]
Com Channing Tatum, Steve Carell, Mark Ruffalo