Crítica: Ex-Machina – Marcha à Guerra

Ex Machina v4 0

Ex Machina v4 1

AÇÃO E POLÍTICA
Novo volume de série da Vertigo mostra como o escritor Brian K. Vaughn consegue unir crítica à paranóia ianque com roteiro aventuresco

Por Társio Abranches

Ex Machina v4 0Quem gosta de política? Vamos confessar, não é um assunto exatamente popular e falar sobre partidos e moções num quadrinho corre o risco de ter o mesmo efeito que assistir telejornal numa madrugada de insônia. Mas com a ajuda de um pouco de super-poderes, personagens carismáticos, polêmicas e mistérios, Ex-Machina consegue te fazer se interessar pelos bastidores da democracia(norte-americana). E se o prefeito Mich Hundred, ex-Grande Máquina, já teve que lidar com assassinos, casamento homossexual, corrupção e escândalos; a bola da vez desse quarto volume, Marcha à Guerra, é os atentados terroristas, mais precisamente a paranóia nova-iorquina.

A história do arco inicial gira em torno de um ataque a uma passeata pela paz até o prédio das Nações Unidas, permitida pelo prefeito. Quatro pessoas morrem e logo levantam-se suspeitas sobre os barbudinhos favoritos dos EUA, a Al-Qaeda, muito embora não haja provas, nem qualquer anúncio proclamando a autoria do atentado. Mich Hundred, que permanecia neutro em questões referente à guerra contra o Terror, começa a ser forçado a tomar alguma posição. Sentindo-se culpado, dá ordens a policiais de revistarem a mochila dos passageiros no metrô. A medida não dá resultados e a situação se agrava. Imigrantes árabes (e confundidos com árabes) são mortos por fanáticos, policiais cometem erros e nenhuma pista do verdadeiro criminoso pelo atentado da passeata é encontrada.

O interessante são as questões morais colocadas a todo o momento ao protagonista. Como herói, você pode fazer o que bem entende. Como político, Mich tem muito poder, mas os seus valores volta e meia entram em choque com os de seus eleitores. Afinal, política se trata em boa parte de agradar àqueles que o mantêm no poder. A opinião pública pede por ações, Bush (a hq se passa em 2003) está no ápice de sua guerra preventiva. Até onde os ideais dos mocinhos da Marvel e DC podem perdurar nesse cenário? Ex-machina é, afinal, um quadrinho sobre como realmente conseguir fazer o que é certo. Mitch Hundred está sempre entre o terno e a capa.

O estilo realista de Tony Harris combina muito com a história, mas às vezes cria uns quadros com expressões faciais muito estranhas. São tão detalhadas e sutis que parecem passar o sentimento errado em algumas ocasiões. É o perigo de confiar muito em foto referência, por isso a entrada de Chris Sprouse, responsável pela arte de Tom Strong, no segundo arco, “Vida e Morte”, é um refresco para os olhos, com o seu estilo mais livre e mais super-heroístico.

A maior parte desse arco se passa em flashback, diferente da narrativa normal da série, onde pequenos trechos do passado são mostrados para relacionar as ações de Mitch como herói e suas posições como prefeito. Chamado para uma entrevista na rádio pública, o prefeito de Nova York é questionado se aprova ou não a pena de morte. A partir daí, nos é apresentada a batalha da Grande Máquina contra o seu arqui-inimigo, Jack Pherson, mencionado nas primeiras revistas da série, no volume Estados de Emergência. O cara era só alguém tentando decifrar os poderes de Mitch, através da gravação de sua voz.

Algo deu errado e Pherson acabou por enlouquecer e ganhar o dom de conversar com animais, assim como Mitch faz com máquinas. Só que, ao invés de salvar os injustiçados, Jack Person quer mais é eliminar o mundo da ameaça humana. E, se me permitem a piada, os dois não falam a mesma a língua, o que coloca a Grande Máquina no velho dilema do mocinho: derrotar o supervilão e deixá-lo viver para fugir da prisão ou pôr um fim definitivo nele.

Defrontando os super-heróis com questões contemporâneas, Ex-Machina consegue se destacar dos demais quadrinhos. Sua provável próxima etapa é a Guerra do Iraque. Veremos o prefeito de Nova York atuar em Bagdá? Acredito que o volume seguinte será um ponto crítico da série e um momento ideal para serem revelados alguns mistérios acerca da origem dos estranhos poderes de Mitch Hundred.

EX-MACHINA VOL. 4: MARCHA À GUERRA
Brian K. Vaughn (texto), Tony Harris, Chris Sprouse (arte)
[Panini Comics, R$ 19,90]

NOTA: 8,0