Enumclaw
Save The Baby
Luminelle Recordings, 2022. Gênero: Rock.
A nostalgia dos anos 90 e 2000 vieram mesmo para ficar. Se esta é a maneira do rock se manter relevante em meio a uma enorme inovação no pop, rap e outros gêneros, eu não faço nenhuma questão. O grupo de Washington (EUA), Enumclaw, por exemplo, é tudo o que os fãs de Oasis, Nirvana, Pearl Jam, entre outros, esperavam. Save The Baby traz um líder-vocalista super carismático, Aramis Johnson, letras bem escritas, com alguma nuance, mas o que pega aos ouvidos é mesmo sua carga altamente reconhecível de riffs cadenciados levados por uma bateria límpida.
Ao emular tão bem seus ídolos, Johnson consegue pular algumas casas importantes para uma banda estreante. Sua produção é muito sofisticada e ele faz um trabalho tão bom em se apropriar do mais alto parâmetro que o gênero possui que já sai na frente de muita coisa que vem sendo feita no rock atualmente, tanto por novatos quanto por veteranos. Sua voz tem um tom monocórdico, meio casual e lento, que lembra muito os vocais do indie-rock dos anos 1990. Mas ele tem um feito que vai além desse dever de casa de seguir os passos dos seus ícones: suas letras confessionais.
Johnson consegue se conectar com as inquietações de sua geração com uma lírica muito particular que confere personalidade a este primeiro disco. O hit “Park Lodge”, por exemplo, fala diretamente sobre o sentimento de imediatismo que tanta angustia os jovens de 20 e poucos ao mesmo tempo em que discorre sobre a necessidade constante de mudar, de se transformar. Mas tudo com uma perspectiva solar, “pra cima”.
- Leia mais: MUNA abraça a liberdade em nova fase.
Em geral as letras mantém esse tom de otimismo, o que combina com o tom relaxado e casual do disco, que segue sem solavancos. A ideia é que conectar o ouvinte com um rock facinho que remeta ao melhor do gênero, sem estresse. Há letras sobre o lado turbulento de um relacionamento, como “Can’t Have It” e “Jimmy Neutron”, mas mesmo essas faixas seguem dentro da proposta lírica que o grupo buscou.
Enumclaw tem um charme irresistível, apesar de se parecer com muito do que já ouvimos. A expectativa segue alta para saber que outras estradas a banda pode explorar para reafirmar ainda mais a própria personalidade.
Leia mais resenhas de discos:
- “SOPHIE” é uma homenagem sem coerência ao legado de um dos grandes nomes do pop
- Caxtrinho canta crônicas sobre desigualdade em “Queda Livre”
- Uana na dianteira do pop pernambucano em “Megalomania”
- Kaê Guajajara cria mosaico de sons em “Forest Club”
- Floating Points faz disco talhado para as pistas em “Cascade”