SE JOGANDO COM GOSTO
Tulipa Ruiz lança disco dançante, cheio de vigor e longe do óbvio
Depois de dois discos elogiados e de ter se tornado uma das vozes mais representativas de sua geração, Tulipa Ruiz não teria outros motivos senão comemorar. E essa sua ótima fase como compositora e intérprete saem pelo poros de cada acorde de Dancê, seu terceiro trabalho, lançado na web este mês.
Leia Mais
PC Music discute artificialidade do pop em tempos de hiper-conectividade
Cantora mexicana Natalia Lafourcade traz novidades ao pop latino
Ava Rocha corre riscos
Com produção de seu irmão, Gustavo Ruiz, Tulipa se joga numa proposta dançante, buscando referências no sacolejo brasileiro dos bailes dos anos 1970, no soul e na música eletrônica mais moderna. Há até lembranças afetivas como “Physical”, de Olivier Newton-John na divertida “Física”. Em “Elixir”, ela explora o seu conhecido timbre de voz elástico em uma música alegre, libertadora, chamando todos para “remexer o esqueleto”. Tem ainda espaço para outras influências, como a MPB cheia de ritmo e de enorme sucesso, como “Realce”, de Gilberto Gil, Rita Lee, Gonzaguinha e pop radiofônico dos 1980.
Dancê completa uma transformação iniciada por Tulipa desde o single “Megalomania”, lançada perto do Carnaval do ano passado. É uma afirmação de proposta mais positivas vistas em seus trabalhos anteriores, como é o caso de “É”, do álbum anterior. Aqui, no entanto, não sobrou espaço para interpretações mais dramáticas e complexas como foi “Víbora”, faixa que ela gravou ao lado de Criolo em 2012.
Nessa vibe ensolarada, Tulipa Ruiz faz um disco longe das obviedades da “música dançante”. Ela e Gustavo, com participação do pai, o guitarrista Luiz Chagas, criaram um trabalho cheio de camadas e com nuances que deram um escopo contemporâneo. Além disso, há um diálogo com propostas autênticas do pop nacional, como a guitarrada do Norte, com a presença de Felipe Cordeiro e seu pai, Manoel Cordeiro, na ótima “Virou”. Em “Tafetá”, ela traz a colaboração de luxo de João Donato. Já em “Algo Maior”, a mais pesada, ela conta com o Metá Metá, uma das bandas brasileiras mais originais em atividade.
Com Dancê, Tulipa Ruiz supera de vez a pecha de “promessa da música brasileira”, atribuída a ela desde seu surgimento e galga um degrau acima no pop brasileiro atual.
TULIPA RUIZ
Dancê
[Pomello/Natura Musical, 2015]