A TRADIÇÃO POPULAR É A ARMA DA GENTE
Siba retorna às raízes em De Baile Solto, disco político cheio de crítica social
Por Paulo Floro
O pernambucano Siba sempre esteve ciente do poder das tradições e do impacto positivo que elas têm na música pop. Desde os tempos de sua primeira banda, o Mestre Ambrósio até a Fuloresta do Samba, ele soube como poucos levar esse diálogo além da reverência para criar sons inventivos a partir do conhecimento acumulado de mestres do maracatu e ciranda. Depois de flertar com uma sonoridade mais roqueira e de forte tradição oral em Avante (2012), seu primeiro disco solo, ele retorna às suas raízes com De Baile Solto.
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O disco serviu de mote para Siba discutir questões políticas que não encontraram espaço em Avante, um disco mais íntimo e de referências pessoais. Aqui o músico chama atenção para o preconceito ao maracatu em Pernambuco, apesar da aparente defesa do público e das autoridades desse ritmo popular. O disco começa com um apelo punk em “Marcha Macia”, que mostra a violência da Polícia Militar contra os artistas de Nazaré da Mata, obrigados a encerrarem as apresentações às 2h. Na tradição da Zona da Mata do Estado, as manifestações seguem até o amanhecer do dia – e tem sido assim por muito tempo.
Siba deu visibilidade à situação em 2014 quando veio a público denunciar a proibição das tradicionais sambadas da Zona da Mata. Depois de debates e audiências públicas, além da intervenção do Ministério Público, a medida foi revogada.
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Em De Baile Solto, Siba usa seu talento em criar joguetes verbais para fazer uma poética de ritmo pesado. Há diversas críticas a questões políticas como o menosprezo às tradições (“Marcha Macia”), violência, consumismo, desigualdade social, mas o mais importante é o modo como Siba reforçou a importância da união das pessoas contra a opressão pelo poder do capital. Na dura “Quem é Ninguém” ele usa faz uso do repente e do maracatu para criticar o poder econômico que toma conta da vida das pessoas e da cidade. “Quem tem dinheiro consome /decide, manda e manobra / mas quem não tem come a sobra, que é pra não morrer de fome”, diz a letra. O álbum finaliza com o oposto do pessimismo do início na divertida “Meu Balão Vai Voar”. “A gente vai pra onde”, diz o sotaque delicioso de Siba, num misto de despedida e convite para desbravar novos espaços.
O novo disco de Siba é incisivo dentro do contexto do Recife e do Brasil hoje, marcado por uma luta entre a preservação da memória de uma sociedade versus a destruição por um suposto desenvolvimento. De Baile Solto é um alento de que as tradições são as maiores armas a favor da nossa cultura e identidade.
SIBA
De Baile Solto
[YbMusic, 2015]
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